
Por Alfredo Valente, Administrador da iad Portugal
Portugal continua a se apresentar como um local atrativo para investidores estrangeiros, usufruindo de uma localização privilegiada, uma qualidade de vida reconhecida e setores econômicos em expansão. Em 2025, a confiança dos investidores estrangeiros permanece alta nos setores de varejo, hotelaria e logística, contribuindo para a atualização de infraestruturas, criação de empregos e estímulo econômico. Contudo, essa dinâmica é delicada: é fundamental assegurar que a entrada de capital internacional não dificulte ainda mais o acesso da classe média à moradia, e que, simultaneamente, se promovam condições que fortaleçam a competitividade dos investidores locais.
O mercado imobiliário deste ano revela indícios de transformação. Os dados do INE mostram que, no primeiro trimestre, apenas 5,1% das propriedades foram adquiridas por cidadãos estrangeiros, representando o valor mais baixo desde 2021. Na iad, essa tendência é confirmada: se, no primeiro semestre de 2024, os compradores internacionais corresponderam a 23% das transações, no mesmo período de 2025 esse percentual caiu para 15%. Essas informações indicam que, ao contrário do que é frequentemente imaginado, a pressão sobre os preços dos imóveis não é atribuível somente ao investimento externo, mas também a fatores internos, incluindo a escassez de oferta e as dificuldades de acesso ao financiamento.
No entanto, é indispensável não subestimar os riscos de uma dependência excessiva de investimentos externos. Em áreas com alta demanda, especialmente oriunda de compradores estrangeiros, programas como o Golden Visa ou a entrada de grandes fundos internacionais têm demonstrado como a injeção de capital pode elevar os preços, tornando a moradia inacessível para muitas famílias portuguesas. O desafio consiste em assegurar que o investimento internacional não resulte apenas em benefícios para aqueles que entram e saem do mercado, mas também em ganhos duradouros para os residentes e trabalhadores em Portugal.
Há ainda uma questão territorial significativa. Embora a maior parte do investimento externo se concentre em Lisboa, Porto e Algarve, há regiões menos favorecidas onde esse capital poderia provocar um impacto transformador, criando oportunidades de crescimento e fixação de população. Direcionar parte desses recursos para o interior e para áreas menos desenvolvidas poderia revitalizar economias locais, atrair talentos, estabelecer população e reduzir as disparidades regionais. Essa descentralização de investimentos representaria uma oportunidade de alinhar interesses empresariais com objetivos estratégicos de coesão territorial.
O futuro exige políticas públicas bem pensadas e equilibradas. É vital continuar atraindo capital externo, que é um motor crucial para o crescimento, mas direcioná-lo para iniciativas que gerem valor dentro do país. Isso envolve estimular a reabilitação urbana com foco habitacional, desenvolver projetos mistos que integrem habitação acessível e criar condições que permitam aos investidores locais competir em igualdade de condições. Uma economia sustentável não pode depender exclusivamente de capital externo, precisa fortalecer sua própria base de investimento.
O desafio não é fechar as portas ao investimento internacional, mas garantir que este traga um impacto positivo e duradouro. É imprescindível assegurar que esse capital, além de gerar retornos financeiros, promova também negócios locais, emprego qualificado e oportunidades de habitação acessível para os cidadãos que habitam em Portugal. Dessa forma, o investimento estrangeiro poderá deixar de ser visto como uma fonte de dependência arriscada e se tornará uma verdadeira bênção para o país.
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