
Não compreendo quem decidiu que o primeiro dia de aulas é uma comemoração. Que as crianças se enchem de euforia. Que há uma correria e um alvoroço que nos contagiam. E que, ao abrirem-se as portas de cada sala, surgem sorrisos e uma excitação típica de quem celebra o retorno às aulas.
Contudo, muitas vezes, a realidade é bem diferente. Os alunos mais novos choram ao serem separados dos pais, e há quem diga que esse choro angustiante é algo normal que logo passa. Os alunos um pouco mais velhos estreiam mochilas, cadernos, livros e canetas, mas sentem um nervosismo típico de quem percebe que a escola ainda pode gerar muitas inseguranças. Os adolescentes se preocupam que, após as férias, os amigos se tornem apenas colegas e que seu lugar possa estar ameaçado por novos rostos.
E então, existem os pais. Especialmente as mães. Que, de uma semana para outra, abandonam a tranquilidade do verão para montar uma logística complexa em que se misturam o trabalho dos pais, a escola e as atividades extracurriculares. Elas enfrentam a agitação de serem motoristas, subindo e descendo pela cidade pelos próximos meses. E há a compra de material escolar, as inscrições para natação, futebol, dança e tantas outras atividades, além da necessidade de garantir que cada criança tenha um cartão carregado para o mês seguinte. Sem falar nas camisetas e outros vestuários que as escolas muitas vezes exigem. E ainda há as chuteiras e o material esportivo, o uniforme e as sapatilhas de balé, além das roupas e calçados para o outono/inverno. E os livros, que precisam ser encadernados e ter o nome de cada filho anotado nas capas. E a correria de passar de uma loja para outra, preparando tudo nos mínimos detalhes, desde a lancheira até as novas refeições e uma infinidade de pormenores que vão surgindo. Por fim, os pais fazem as contas e se surpreendem, mais uma vez, com o fato de que a escola nem sempre é tão inclusiva quanto todos afirmam. E que há uma grande diferença entre usar livros e cadernos já usados e ter novos e reluzentes.
De fato, o ano não começa em janeiro. Inicia-se em setembro. E rapidamente consome a energia acumulada durante as férias. O essencial seria que, após essa avalanche, houvesse um momento de calma. Mas isso não ocorrerá. Há estresse e correria todos os dias. A pressão de ter demasiados compromissos escolares e um excesso de obrigações fora da escola. A assustadora falta de intervalos e de oportunidades para brincar. A exigência de resultados desde o primeiro instante, em todos os momentos. A ideia de que é preciso aprender rapidamente, ter respostas prontas, sem espaço para perguntas, dúvidas ou erros, ou para transitar da curiosidade ao assombro, independentemente do tempo que isso demande.
O que a escola deveria ser — um ambiente plural, onde crianças conhecem seus professores e vice-versa, onde famílias e educadores caminham juntos, em que brincar e aprender se entrelaçam, onde se educa e se ensina a pensar — a partir desta semana, corre o risco de se transformar, mais uma vez, em uma linha de produção de jovens tecnocratas com mochilas. Onde repetir e aprender se confundem frequentemente e onde resultados e a maneira de aprofundar o aprendizado nem sempre são compatíveis.
Antes que a escola abra suas portas, como se estendesse os braços para acolher nossos filhos, eu desejaria que ela fechasse. Por dois dias. Para uma reflexão. Para que, então, possa abrir novamente com uma nova abordagem. Para que um novo ano signifique uma nova escola. Que olhe para o futuro e se abra para o prazer do conhecimento como deveria.
Feliz Ano Novo!
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