
Os votos não são conquistados apenas por promessas eleitorais, e os políticos já compreendem esta verdade. Ganhar eleições envolve mais do que apenas dados; o instinto dos votantes tem um papel significativo.
É sabido que os fatos têm importância. No entanto, raramente reconhecemos que muitas vezes eles chegam tardiamente. A política, em sua essência, parece afetar primeiro nossas emoções, que vão do aumento da adrenalina ao desconforto no estômago, criando a sensação de pertencimento. Enquanto isso, dados, razões e argumentos oferecem uma defesa que tenta justificar uma escolha que já foi estabelecida internamente. Essa dinâmica é o que faz com que certas falas e líderes nos motivem de imediato, mesmo que não consigamos explicar o que sentimos.
As emoções que ativam nosso medo e nosso desejo de pertencimento não esperam pela evidência. A evolução moldou nossa biologia dessa forma. Precisamos agir rapidamente, muitas vezes antes de entender completamente. Entre a emoção e a razão (ou os dados), ocorrem grande parte das campanhas políticas. Quando os dados finalmente chegam – frequentemente de forma apressada e não desejada – já encontram um campo minado pelas emoções, muito antes de nos sentirmos prontos para decidir livremente ou que a razão tenha espaço para organizar raciocínios.
Ao longo dos anos, ensinei aos meus alunos que empatia e medo atuam como filtros que distorcem nossa percepção da realidade e também o que é considerado verdadeiro ou falso. Porém, essa não era a lição inicial. Em meu percurso como educadora e pesquisadora das bases neurobiológicas da empatia, tinha o desejo de demonstrar a universalidade desse fenômeno psicológico e como ele nos conecta, permitindo que pensemos a partir da perspectiva do outro e nos tornemos sensíveis à sua dor. Hoje, com tristeza, percebo que a ciência indica uma outra direção. Infelizmente, a empatia não é um benefício acessível a todos. É mais como uma porta entreaberta que acolhe alguns com calor e se fecha sem hesitação diante dos “outros”.
Quanto ao medo, é possivelmente a lente mais antiga do cérebro humano. Essa resposta primitiva restringe nosso campo de visão, amplifica ameaças potenciais e confere mais crédito ao que valida nossos alarmes do que ao que os contradiz. Algumas correntes políticas são hábeis em ativar esse mecanismo. Basta insinuar perda ou perigo para que nossas amígdalas entrem em ação, funcionando como detectores de ameaça ocultos em nosso cérebro que influenciam quem merece nossa proximidade e quem demanda distância.
Com a chegada de uma nova campanha municipal, precisamos manter os olhos atentos e os nervos firmes, pois as próximas semanas não trarão apenas debates tranquilos. O que se aproxima não será apenas uma discussão racional sobre propostas e programas, garanto a você. Vivenciaremos emoções coreografadas, convites para o velho jogo tribal do “nós” contra “eles”, slogans que tocam em nossas carências, indignações e urgências mais imediatas. Muitos desses apelos ressoarão intensamente em alguns de nós, atingindo diretamente nosso íntimo. Como sempre, essas emoções nos alcançam primeiro nas vísceras e somente depois se aventuram a chegar ao nosso intelecto, já deixando suas marcas. Entre medo e empatia, podemos ser manipulados como fantoches. Podemos não ter poder sobre as emoções que nos atravessam, mas, como costumo dizer nas aulas de neurociência, sempre escolhemos como agir em relação a elas. O futuro da política depende disso.
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