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Oferecendo o tronco aos projéteis

No México, um bispo enfrenta desafios imensos em sua missão pastoral No estado de Guerrero, um dos mais violentos do
Pequena Joia – Agência Cristã

No México, um bispo enfrenta desafios imensos em sua missão pastoral

No estado de Guerrero, um dos mais violentos do México, a fé se revela como o último abrigo para uma população silenciada pelo crime organizado. Na Diocese de Chilpancingo-Chilapa, o Bispo D. José de Jesús González vive sua vocação pastoral com um comprometimento que o levou, literalmente, a se expor ao perigo. Em setembro, milhares de portugueses foram convidados a demonstrar sua solidariedade com a Igreja Mexicana, que luta contra a violência para apoiar os mais necessitados e vulneráveis da sociedade.

O Bispo González chegou à diocese há três anos, após doze anos na prelazia de Nayar, onde seu trabalho com comunidades indígenas já o havia colocado em situações de alto risco. Apenas 11 meses depois de ser ordenado bispo, ele sofreu uma emboscada. “Éramos três em uma van e fomos atacados”, recorda. “Eles miravam nossas cabeças, não os pneus. Quando perceberam que éramos clérigos, pediram desculpas. Se ofereceram para pagar os vidros que quebraram, mas o mais vital é que não fomos mandados ao coro celestial”, relembra, com um toque de humor, durante sua recente visita à sede internacional da Fundação AIS na Alemanha. Um humor que não encobre, no entanto, a seriedade do ocorrido. Os criminosos, ao saberem que ele era o bispo, até pediram sua bênção. Esse incidente impactou seu ministério e fez com que ele reconhecesse que sua missão envolve não apenas proteger suas paróquias, mas também ter compaixão por aqueles que vivem em situação de violência. “Esses também são meus filhos, mesmo que estejam perdidos”, afirma. Ele descreve o episódio como desafiador, mas essencial para entender o que Cristo espera dele como pastor em um dos países mais perigosos do mundo para o sacerdócio. “Se Ele deu a vida por amor a mim, eu também devo fazer o mesmo por amor aos outros. E esses ‘outros’ incluem todos, até mesmo os agressores”, declara.

Uma diocese em um “estado sequestrado”

No Guerrero, o Bispo Gonzalez encontra um cenário que classifica como um “estado sequestrado” pelo crime organizado. Grupos armados executam sua própria justiça, exigem pagamentos e já transformaram extensas áreas em zonas sem lei. A violência se tornou uma norma estabelecida. Estradas são controladas, extorsões ocorrem, e desaparecimentos e assassinatos são parte da rotina. A Igreja, segundo o bispo de Chilpancingo-Chilapa à Fundação AIS, é vista como “a única voz que pode representar o povo”. Essa voz, no entanto, tem um preço: padres e líderes comunitários já foram mortos por lutarem pela justiça e pela dignidade humana. “Mas se não tivermos coragem, o povo chora… e Deus também chora”, ressalta o prelado. O papel da Igreja vai além do aspecto espiritual. Com outros bispos e padres, D. José de Jesus Gonzalez, por exemplo, promove lares de acolhimento para mães que buscam por seus filhos desaparecidos, oferecendo apoio emocional, assistência jurídica e, acima de tudo, um abraço reconfortante que as faça sentir que não estão sozinhas. “Elas desejam fazer parte da Igreja, sentirem-se protegidas. Não podem enfrentar sozinhas o lobo que as devora”, destaca.

Seguimento: a fé como proteção e força

Em meio a toda essa violência, D. Gonzalez não minimiza os riscos. Ele foi testemunha da morte de padres que promoviam a paz e sabe que ele também pode ser um alvo. Apesar disso, ele continua presente nas comunidades, celebrando Missas, visitando famílias e, quando necessário, encaram o perigo. “A oração nos torna corajosos para entrar na luta”, afirma. E ele solicita a todos, tanto dentro quanto fora do México, que orem por ele e pela sua diocese. “Orem por nós. Deus não nos abandona, mas precisamos da sua proximidade para avançar.” Nos últimos anos, a Fundação AIS tem apoiado a Diocese de Chilpancingo-Chilapa com diversos projetos, incluindo a concessão de estipêndios de Missa para padres, reparo de um convento para religiosas e apoio à formação do clero.

A solidariedade dos portugueses

Recentemente, no início de setembro, os benfeitores portugueses da Fundação AIS foram convidados a participar do esforço da Igreja Mexicana que, em Zamora de Hidalgo, no estado de Michoacán, também de alta violência, está ao lado das comunidades mais fragilizadas e ameaçadas pelo crime organizado. O trabalho das Irmãs Operárias da Sagrada Família é um exemplo disso. Essas religiosas atuam em uma escola com cerca de 300 alunos, onde, além da educação, buscam reconstruir vidas. Em uma carta enviada a milhares de benfeitores portugueses, a Fundação AIS compartilhou o relato da Irmã Rosalina. “Em uma das aldeias, recordo-me do pânico que se sentia nas famílias. Uma das ameaças mais aterrorizantes foi a de que fariam um terço com as cabeças das crianças e as colocariam na rotunda da aldeia”, relatou a religiosa. Entretanto, assim como D. José de Jesus Gonzalez, essas irmãs estão decididas a mudar essa realidade. Quando questionam se não têm medo, ou por que não partem, a resposta é imediata: “O que nos fortalece e nos dá coragem é a oração e o apoio mútuo. Fugir não está em nossos planos. Queremos estar lá, com o povo. Acompanhar os que sofrem. Não vamos embora”, afirmam. Na carta enviada pela AIS, a diretora do secretariado nacional da fundação pontifícia fez um apelo à generosidade de todos para com esta Igreja em missão em um dos países mais perigosos do mundo. “Peço, de coração, que se una a esta corrente de amor e solidariedade”, escreveu Catarina Martins de Bettencourt. “Assim como as Irmãs Operárias da Sagrada Família, seu donativo ajudará centenas de religiosas e padres a levar fé, educação e dignidade às crianças e jovens que dependem de nossa ajuda para seu desenvolvimento”, concluiu.

Paulo Aido e Maria Lozano

(Os artigos de opinião publicados na seção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são de responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas seus autores.)

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