
As máquinas não raciocinam, mas tendemos a acreditar que elas raciocinam. Essa crença surge porque associamos as ações de uma máquina a atividades que realizamos ou que desejamos realizar; essa sensação decorre da ideia de que tudo o que fazemos é reflexo do raciocínio. No entanto, quando acreditamos que as máquinas possuem essa habilidade, é comum pensarmos que elas realizam isso de forma superior à nossa. A percepção que temos delas se assemelha à que nutrimos por alguém ou algo que realiza tarefas que não conseguimos executar com a mesma destreza: como um patinador ou um caçador de pérolas.
A verdadeira razão pela qual consideramos que as máquinas possuem pensamento é porque nos vemos como um conjunto de habilidades, ou seja, acreditamos que a nossa essência reside no que podemos realizar. Dessa forma, imaginamos que a nossa existência se resume a um processo de aprendizado; enxergamos a vida como uma forma de aprimoramento contínuo, e nós mesmos como um produto evoluído. Ao narrar a nossa trajetória, geralmente destacamos esse produto: começando por engatinhar, já conseguimos correr maratonas; as construções que fazíamos como uma criança mais nova agora são robustas; e, após reunir toda a informação, somos aptos a calcular as consequências das nossas intenções e a diferenciar boas de más ações, mesmo antes de iniciá-las.
Conceber que somos seres bípedes dotados de habilidades, e de fato somos, não abrange completamente a totalidade do que somos. Também somos criaturas que hesitam, que mudam de opinião, que mantêm hábitos, que cuidam de animais, que afastam indivíduos, que acreditam que nunca cometariam determinadas ações, e que, em um dia específico, podem mudar de ideia. Às vezes, conseguimos articular nossos atos e seguimos nossos instintos. Esses comportamentos, hesitações e atitudes não se configuram exatamente como habilidades ou avanços mentais: não os adquirimos, ou pelo menos não da mesma maneira que aprendemos a fazer contas ou a prever resultados; mas também não podemos desconsiderá-los.
O maior problema de acreditar que as máquinas possuem raciocínio é quem sustenta essa crença: é pensar que somos a soma de nossas habilidades, e que tudo o que fazemos se resume a tirar conclusões baseadas em informações, através de processos mentais similares a circuitos elétricos em nosso interior que conectam essas partes. Se raciocinar for isso, então as máquinas raciocinam. Contudo, o raciocínio é muito mais rico e diversificado: inclui decidir quem está certo em uma desavença entre vizinhos; avaliar se vale a pena continuar tocando uma corneta desafinada; concluir que, por hora, não é necessário adicionar mais sal à massa; reconhecer que não se pode viver sem determinadas pessoas; e entender que se possui destreza manual mesmo sem saber como utilizá-la. E se considerar isso como parte do raciocínio, então as máquinas não raciocinam.
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