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Melancolia ou vivência melancólica?

Discutir a depressão é abordar um território sensível de emoções devastadoras frequentemente cobertas por um entusiasmo forçado pelo mundo, que
Melancolia ou vivência melancólica?

Discutir a depressão é abordar um território sensível de emoções devastadoras frequentemente cobertas por um entusiasmo forçado pelo mundo, que resiste ao que é desagradável. O preconceito relacionado à saúde mental, que associa o deprimido a alguém sem graça, triste e sem nada a oferecer, o exclui da realidade vibrante e de alto desempenho.

O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) classifica a Depressão Maior como um transtorno severo do humor, caracterizado por intensa angústia, falta de interesse em atividades cotidianas, insônia e mudanças cognitivas, que podem levar até a pensamentos suicidas. Nesse mesmo capítulo, outras formas de manifestação menos evidentes, como a distimia, são descritas, retratando indivíduos como mal-humorados e irritados.

Deixamos a análise de diagnósticos e causas para a neurociência, que ainda não conseguiu estabelecer uma teoria consensual. O que nos interessa é refletir sobre a ausência de bem-estar da pessoa como um todo, que pode emergir em contextos complicados ou simplesmente surgir sem uma causa aparente, criando um nível de sofrimento que muitas vezes é ignorado pela sociedade apressada, que não tem tempo para lidar com crises individuais.

É surpreendente perceber que essa condição afeta indivíduos famosos e aparentemente de alto desempenho, sem razões claras para estarem deprimidos. Esse enigma crescente impacta uma em cada cinco pessoas ao longo da vida, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, e gerou uma preocupação amplamente discutida. Nesse cenário, a avaliação pode ser exagerada, levando à prescrição preventiva de medicamentos para depressão.

Os profissionais da saúde mental enfrentam uma variedade de defesas e mecanismos que levam pessoas a criar uma fachada de normalidade, resultando em uma espécie de “depressão funcional”, onde se manifestam apenas sintomas psicossomáticos, como dores crônicas, tremores e náuseas. O problema tende a ser minimizado com a última novidade em medicamentos antidepressivos, amplamente promovidos pela indústria farmacêutica e geralmente prescritos por qualquer profissional médico neste país, onde o acesso a terapia psicológica é limitado.

A questão é complexa e a prescrição de medicamentos psicoativos como primeira linha de tratamento pode muitas vezes se basear em tentativas e erros. Com frequência, há uma cascata de reações psicológicas a medicamentos, cuja eficácia varia de acordo com a individualidade do paciente. Os sintomas podem gerar outros, formando uma comorbidade difícil de tratar, e o mecanismo químico de ação não é totalmente claro. Dados recentes indicam uma resistência aos antidepressivos próxima a 50%, conforme demonstrado em vários estudos, incluindo a pesquisa de Kiranpreet Gill et al, publicada online pela Cambridge University Press em 12 de março de 2025, no The British Journal of Psychiatry.

A estrutura atual das relações humanas, dominada pelo virtual e pela incessante pressa por eficiência, tem resultado em depressões complexas, cuja abordagem e tratamento são extremamente desafiadores e muitas vezes inalcançáveis por leigos que, nas redes sociais, se intitulam psicoterapeutas após cursos online de fim de semana. É fundamental que verdadeiros profissionais da saúde integrem, em sua prática diária, o encaminhamento das necessidades psicológicas dos indivíduos, sem que estes precisem passar por uma crise ou urgência psiquiátrica. Hoje, mais do que nunca, é crucial uma visão holística, além do modelo biomédico, pois a relação entre sintoma e cura envolve fatores intricados que o medicamento isolado não consegue alcançar.

Retornando à questão da depressão, será que a existência será enganada para sempre pela química? Podemos reduzir a condição a uma falta de serotonina e dopamina, como se fosse um déficit de vitamina D? A trivialização da medicação psiquiátrica parece ser um fenômeno inegável, impulsionado pela pressão das pessoas sobre os serviços de saúde para obter aquelas pílulas mágicas que eliminem a insatisfação com a vida, o tédio, a frustração, a falta de atenção e a incapacidade de lidar com as exigências do trabalho, entre outros desafios. É evidente o quadro de que cuidamos, um paciente que enfrenta uma profunda estranheza e aversão a si mesmo, desejando ser outra pessoa, incapaz de enfrentar o desconforto inerente à vida. A questão parece estar mais relacionada ao existencialismo do que à bioquímica!

A depressão é multifatorial e variável, e quando não se manifesta em um contexto problemático, como divórcio, doenças físicas ou lutos, parece surgir uma sensação de desencanto inexplicável com a vida, que definimos como uma autoconsciência, uma forma de perceber e sentir o mundo e a relação com os outros. A anedonia, um termo clínico, é o sintoma principal da depressão, caracterizada por uma crônica falta de prazer. Uma desmotivação por coisas que habitualmente atraem os outros, uma ausência de significado que tanto os outros quanto ela mesma não compreende… então finge até que haja uma ruptura.

Dias repetitivos, compostos por atividades básicas de sobrevivência. Os olhos observam o mundo físico, mas a visualização se reverte para um interior que perde suas cores; as sensações tornam-se mínimas, sweets, salgadas, quentes, frias – as cores do semáforo para atravessar a rua. A respiração é automática, o ar entra sem esforço pelas vias respiratórias, e a realidade é dominada pela sensação de não pertencimento. Há uma desistência antecipada, pois não parece valer a pena cruzar o túnel que conecta ontem e amanhã; o agora é entediante, com a incapacidade de rir do que os outros riem ou de chorar pelo que choram. O Eu percebe cada coisa com uma sensibilidade exagerada e fica desesperado, porque mesmo que algo ao redor mude, em si mesmo, nada vai se alterar. Uma insatisfação que não busca ser preenchida.

Tudo é insignificante, indiferente; além das lágrimas, passos e gestos mecânicos, há uma total desconexão entre corpo e mente. Um Eu que não é essencial nem para si nem para outra pessoa. Busque ajuda especializada, não permita que você chegue a esse ponto…

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