
A economia planetária, que se desenvolveu e se integrou ao longo de quase quatro séculos, agora enfrenta uma fase de desglobalização. Mesmo duas guerras mundiais não conseguiram interromper as trocas comerciais, os investimentos e os movimentos migratórios que moldaram a economia global.
De acordo com o historiador econômico J. Bradford DeLong, a economia mundial cresceu de 81,7 bilhões de dólares em 1650 para 70,3 trilhões de dólares em 2020, uma elevação de 860 vezes. Os períodos de crescimento mais acentuado coincidiram com o “longo século XIX” e com a liberalização comercial que se seguiu à Segunda Guerra Mundial até a crise financeira de 2008.
A recuo da globalização e as consequências das políticas protecionistas
Steve Schifferes, pesquisador honorário do Centro de Pesquisa em Economia Política da Universidade de Londres, destacou, em um artigo no site ‘The Conversation’, que aunque a globalização ainda perdura, está em um declínio. As tarifas implementadas pelo presidente Donald Trump exacerbaram problemas estruturais, mas não são a fonte principal. A realidade histórica revela que o declínio dos EUA como potência econômica global é um fenômeno que vem se desenrolando há décadas. Historicamente, apenas uma potência hegemônica dominava a economia mundial e estabelecia as regras globais.
Atualmente, com uma política isolacionista, os EUA não conseguem encontrar um substituto imediato. A China enfrenta dificuldades econômicas e carece de legitimidade democrática para assumir a liderança global. Tipicamente, períodos de desglobalização geram instabilidade, como ocorreu nas guerras, quando o isolamento americano contribuiu para crises econômicas e políticas, além do fortalecimento de regimes autoritários.
O mercantilismo francês: lições do passado
No século XVII, a França adotou políticas mercantilistas sob a direção de Jean-Baptiste Colbert, protegendo suas indústrias nacionais, acumulando ouro e reforçando a marinha. O protecionismo francês levou a guerras comerciais e conflitos e acabou sucumbindo ao poder naval britânico. Este modelo é semelhante às políticas protecionistas atuais de Trump, que priorizam interesses nacionais em detrimento do comércio global.
Liberalismo comercial britânico e hegemonia mundial
No século XIX, a Grã-Bretanha consolidou a globalização baseada no liberalismo comercial e na eficiência industrial. Adam Smith e David Ricardo defenderam que o comércio traz benefícios a todas as partes. O padrão-ouro e a City de Londres possibilitaram investimentos globais e acesso a mercados estrangeiros. Entretanto, a dominação britânica cerceou o desenvolvimento econômico de suas colônias, como a Índia, cuja participação industrial mundial caiu de 25% para 2% entre 1750 e 1900.
Estados Unidos: transição do protecionismo para o neoliberalismo
Durante o século XIX, os EUA implementaram o protecionismo, protegendo indústrias emergentes através de tarifas elevadas. Após a Segunda Guerra Mundial, eles se estabeleceram como superpotência global, criando instituições econômicas internacionais e promovendo o dólar como moeda predominante. A financeirização da economia mundial aumentou a desigualdade, favorecendo as elites urbanas e deixando trabalhadores rurais e industriais em desvantagem.
Trump e o retorno ao mercantilismo
A eleição de Donald Trump em 2016 refletiu a insatisfação da classe trabalhadora. Suas políticas protecionistas e a retórica “América em Primeiro Lugar” evocaram uma visão mercantilista do comércio como um jogo de soma zero. Cortes de impostos, tarifas e a exclusão de imigrantes elevaram a dívida pública americana e pressionaram o sistema financeiro global, evidenciando a vulnerabilidade da economia mundial.
Desglobalização e um futuro incerto
Mesmo sem Trump, a hegemonia americana já estava em declínio. A globalização enfrenta desafios estruturais, como a redistribuição do poder econômico e a falta de uma potência substituta. A história sugere que um mundo desglobalizado tende a ser mais instável e suscetível a crises econômicas e políticas.
O futuro da economia global dependerá das decisões políticas e econômicas no cenário internacional, da atuação dos EUA, da China e de outras potências, e da capacidade de manter os mercados globais abertos em um contexto de crescente tensão global. A globalização não chegou ao fim, mas enfrenta um retrocesso que pode redefinir o equilíbrio econômico mundial.
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