Na quarta-feira, a Espanha realiza um funeral de Estado em Valência para homenagear as 237 vidas perdidas há um ano devido a inundações no leste do país, uma tragédia que ainda está sob investigação judicial e sendo analisada por três comissões parlamentares.

No dia 29 de outubro de 2024, uma “gota fria” ou DANA, conhecida em Espanha como uma “depressão isolada de altos níveis”, formou-se no sul da Península Ibérica, provocando chuvas intensas e concentradas, especialmente no interior da região de Valência, onde os índices de precipitação em 24 horas foram os mais altos já registrados na Europa.

A quantidade excessiva de água desceu rapidamente em direção ao litoral mediterrânico através de barrancos e encostas, invadindo, no final da tarde, ruas e avenidas em diversos subúrbios da cidade de Valência, uma das áreas com maior concentração populacional da Espanha.

A tragédia causou a morte de 229 indivíduos na Comunidade Valenciana, sete em uma área próxima da região de Castela-La Mancha e uma na Andaluzia (sul da Espanha), conforme dados oficiais.

Na cidade de Valência, epicentro da tragédia, a tempestade afetou uma extensão de aproximadamente 553 quilômetros quadrados, abrangendo 75 municípios e 306 mil habitantes.

De acordo com o governo regional, as inundações provocaram danos avaliados em pelo menos 17.800 milhões de euros em residências, infraestruturas de transporte e abastecimento, parques naturais, áreas protegidas, escolas, centros de saúde, locais culturais e sociais, além de 64.100 empresas, entre diversos outros setores.

A agência nacional de meteorologia da Espanha (Aemet) emitiu um aviso vermelho para chuvas na região de Valência a partir das 07:00 da manhã, mas o alerta da proteção civil, sob a supervisão de governos regionais, só chegou aos celulares da população às 20h11.

Além de ter sido tardio, o alerta foi considerado inadequado para a gravidade da situação, surpreendendo os habitantes da costa, onde não havia chovido durante o dia.

Um primeiro relatório da investigação judicial, que ainda está em andamento para averiguar possíveis responsabilidades criminais pelas mortes de 229 pessoas em Valência, indica que a maior parte das vítimas faleceu antes que o alerta da proteção civil fosse recebido.

As inundações ainda são objeto de três comissões parlamentares (no parlamento regional de Valência, no parlamento espanhol e no Senado), formadas para investigar responsabilizações políticas.

Até o momento, nenhuma das comissões chegou a conclusões, e a do parlamento espanhol (Congresso dos Deputados), que deve ter maior relevância, iniciará as audiências em meados de novembro, incluindo depoimentos do presidente do governo regional da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, do Partido Popular (PP, direita), e do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

Desde as enchentes, em decorrência do alerta tardio e de informações públicas consideradas parciais e contraditórias, Mazón se tornou o principal alvo das críticas, e ao longo de 12 meses foram realizadas 12 manifestações em Valência solicitando sua demissão, mobilizando dezenas de milhares de cidadãos.

Familiares das vítimas pediram nas semanas recentes a Carlos Mazón que não comparecesse ao funeral de Estado programado para esta quarta-feira às 18h00 locais (17h00 em Lisboa), que ocorrerá no Museu das Ciências de Valência.

O “funeral de Estado em homenagem às vítimas da DANA” contará com a presença das mais altas autoridades da Espanha, incluindo os Reis Felipe VI e Letizia, assim como o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, além dos parentes dos falecidos.

Durante a cerimônia, estão previstas intervenções de Felipe VI e representantes das famílias das vítimas.