“Aqui estou eu, no final de agosto, entrevistando o Björn.” No ecrã do smartphone de Oscar Höglund aparece uma imagem do fundador e CEO da Epidemic Sound ao lado de Björn Ulvaeus, um dos integrantes do Abba. “Eles são um verdadeiro tesouro nacional”, afirma Oscar Höglund em entrevista ao Observador. A Epidemic Sound pode não ser ainda um “tesouro nacional” da Suécia, mas é reconhecida como a principal plataforma global de soundtracking e efeitos sonoros. “As nossas músicas são escutadas três mil milhões de vezes na internet diariamente. É quase impossível estar na web ou nas redes sociais durante um dia sem ouvir uma canção ou um efeito sonoro do nosso repertório”, resume Oscar Höglund.
Este ano, o CEO da Epidemic Sound participou pela primeira vez na Web Summit, onde debateu com influenciadores do YouTube (Jenny Hoyos e Steve Wright) sobre como conquistar a atenção no atual panorama mediático. Esta não foi a sua primeira vinda a Portugal. “Meus pais viveram em Estoril”, confessa em entrevista ao Observador à margem do evento tecnológico. Mas foi em Estocolmo, há 16 anos, que Oscar Höglund colaborou na fundação deste unicórnio sueco (a Epidemic Sound teve uma avaliação superior a mil milhões de dólares em 2021).
“A Epidemic surgiu, de maneira equilibrada, de uma combinação de frustração e sonho. A frustração veio do fato de eu trabalhar na criação de conteúdos para televisão. Aprendi, na prática, que a música é absolutamente essencial para o conteúdo. Conteúdos sem música são como refeições sem sabor”, relata. “Para provocar emoções nas pessoas, seja alegria, tristeza, medo ou desejo de compra, é necessário o componente sonoro: música e efeitos sonoros.”
Ele recorda que, naquela época, “era complicado obter licenças para a música; não existia a tecnologia, e os criadores de conteúdo temiam utilizar música.” Assim, “completamente quebrado”, uniu-se a quatro colegas. “A parte frustrante foi o que nos levou a procurar inovar e resolver esse problema.” A “visão” dos fundadores era audaciosa: “decidimos que queríamos ser a empresa responsável por criar a banda sonora da internet.” Hoje, ele acredita que atingiram esse objetivo.
“Iniciamos isso quando a internet ainda era focada em fotografias, e não em vídeos, como é atualmente. Agora temos TikTok, reels, YouTube, vídeos curtos e longos. Estávamos certos. Mas há 16 anos, essa visão era bastante arriscada.” O alcance da Epidemic Sound é sobretudo evidente no YouTube, onde 2,3 mil milhões de vídeos com músicas da plataforma são assistidos diariamente, seguidos por 700 mil no TikTok.
Atualmente, é “praticamente impossível” navegar na internet sem encontrar um som do catálogo da Epidemic Sound. Mas como funciona? “É um serviço por assinatura”, esclarece. Os assinantes têm acesso ilimitado a um repertório de cerca de 250 mil músicas e efeitos sonoros, juntamente com as respectivas ferramentas. Há uma assinatura destinada a pequenos criadores, como youtubers, tiktokers e instagramers, que é utilizada por “70% dos principais criadores do YouTube”, incluindo personalidades como Mr. Beast ou o grupo Sideman. O nível seguinte atende pequenas e médias empresas, enquanto o último é voltado para grandes clientes corporativos, como a Fórmula 1, a Premier League ou a L’Oréal.
Para Oscar Höglund, não resta dúvida de que a Epidemic Sound é uma empresa de tecnologia, não uma simples empresa musical. “É essa abordagem que nos permite agregar valor tanto para criadores de conteúdo quanto para artistas.” O lucro obtido através das assinaturas, assegura, é dividido com os artistas, que recebem uma comissão “desde o início.”
Além das assinaturas, que representam a maior parte das receitas, a Epidemic Sound também obtém rendimento através dos serviços de streaming. “Como nossa música tem amplo alcance, as pessoas querem ouvi-la fora dos conteúdos onde a conheceram. Criamos sucessos. Assim, começamos a disponibilizar nossas músicas em plataformas” como o Spotify (também uma empresa sueca). “Isso gera consideráveis royalties, que são divididos 50-50 com os artistas.”
Há ainda uma terceira maneira de gerar receita, referente àqueles que “utilizam” músicas da plataforma de forma não autorizada. Por exemplo, se uma canção do catálogo é empregada em um vídeo do YouTube sem ser adquirida de maneira legal, a Epidemic Sound solicita ao YouTube que coloque anúncios nesse vídeo. “E como a música é nossa, recebemos parte da receita dos anúncios”, explica Oscar Höglund. Segundo dados fornecidos ao Observador, os artistas da Epidemic Sound ganham, em média, 60 mil dólares por ano (aproximadamente 52 mil euros), com os mais bem compensados alcançando até 200 mil dólares. Desde o início deste ano, a empresa afirma ter ampliado o modelo de compensação para incluir pagamentos a artistas que contribuem com ferramentas de IA. No ano passado, a Epidemic Sound gerou cerca de 170 milhões de euros em receitas.
Apesar do imenso alcance e do vasto catálogo da plataforma, a Epidemic Sound não está acessível a qualquer artista que queira submeter suas músicas. Existe uma curadoria rigorosa do que é oferecido aos assinantes. “Cada visualização é um sinal que chega até nós. Sabemos se a música foi ouvida até o fim, se recebeu “like”, se foi adicionada a uma playlist ou se não foi escutada de forma alguma. Com todas essas informações, podemos entender o que os criadores de conteúdo desejam e o que estão procurando. Eles preferem mais country ou mais dubstep? Com base nessas análises, conseguimos definir que tipo de música o mercado demanda, e é assim que expandimos nosso catálogo.”
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