
Rui Saraiva, diocese do Porto
O Papa Leão XIV aspira que a sinodalidade se transforme em uma mentalidade e reafirma três anos de execução do Sínodo na direção da Assembleia Eclesial de 2028. Esse é um momento propício para a metamorfose das relações, dos processos e das responsabilidades. É uma época para avançar em conjunto e vivenciar práticas, em discernimento eclesial.
Chegou o momento aguardado: o de proclamar o espírito sinodal em toda a Igreja e buscar fazer da sinodalidade uma mentalidade.
Como o Papa Leão XIV disse aos bispos italianos no dia 17 de junho passado, convocando-os a adotar uma verdadeira mentalidade sinodal: “Que a sinodalidade se torne uma mentalidade, no coração, nas decisões e nas formas de agir”, afirmou o Papa.
“Encarem o futuro com tranquilidade e não temam fazer escolhas audaciosas”, exclamou o Papa Leão XIV na ocasião.
No entanto, apesar do encorajamento do Sumo Pontífice, a magnitude do processo global iniciado em 2021 e as conclusões coletivas do Sínodo deixam sempre uma dúvida metodológica: conseguiremos transformar a implementação do Sínodo em uma oportunidade?
Vamos examinar alguns dados sobre a execução do Sínodo.
Metamorfose das relações, processos e responsabilidades
Após três anos de caminhada conjunta, entre 2021 e 2024, em um movimento que reuniu milhões de pessoas em todo o mundo refletindo sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão e missão”, as resoluções do Sínodo foram condensadas em um documento publicado em outubro de 2024.
O Documento Final (DF) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com seus 155 pontos, é resultado do trabalho de 368 participantes, incluindo 272 bispos e mais de 50 mulheres. O DF apresenta uma ampla visão sinodal tendo como palavra-chave: conversão. A conversão das relações, dos processos e das obrigações. Uma conversão contínua que surge da escuta do Evangelho, colocando em prática os ensinamentos do Concílio Vaticano II, conforme indicado no número 5 do documento.
“De fato, o caminho sinodal está plenamente alinhado com o que o Concílio ensinou sobre a Igreja como Mistério e Povo de Deus, chamado à santidade através de uma conversão contínua que brota da escuta do Evangelho”, menciona o DF.
Depois da fase inicial de consulta com as comunidades, com os relatórios das dioceses, das conferências episcopais e das assembleias continentais, o Sínodo teve duas sessões em Roma nos anos de 2023 e 2024.
O DF do Sínodo de outubro de 2024 é o material indispensável para a realização concreta das conclusões na vida da Igreja.
Avançar juntos e vivenciar práticas
Para apoiar a execução, a Secretaria Geral do Sínodo lançou, em julho, um breve texto intitulado “Diretrizes para a fase de implementação do Sínodo.”
O texto publicado apresenta-se como um “quadro de referência comum” que “facilite a caminhada conjunta” e auxilie na “promoção do diálogo”, conforme mencionado na apresentação do texto.
Para implementar o Sínodo, é imprescindível vivenciar a experiência sinodal. No primeiro ponto do documento, enfatiza-se que “o crescimento como Igreja sinodal requer um conhecimento que só se adquire pela experiência, abrindo um caminho para o encontro com o Senhor”.
A Secretaria Geral do Sínodo ressalta que esta “fase de implementação tem como objetivo vivenciar práticas e estruturas renovadas, que tornem a vida da Igreja cada vez mais sinodal”.
Além disso, destaca a fase de implementação como “uma oportunidade para manter ativo aquele intercâmbio de dons que promove a comunhão”. Enfatiza também a importância da “criatividade que inspira novas formas de exercer a sinodalidade”.
A responsabilidade do bispo e a animação em equipe
“O principal responsável pela fase de implementação em cada Igreja local é o bispo diocesano”, recorda o documento das diretrizes para a implementação do Sínodo.
O texto indica que é uma ocasião propícia para os bispos “exercitarem sua autoridade de forma sinodal”, conforme assinala o DF: “Aquele que é ordenado bispo não recebe prerrogativas e tarefas para desempenhar sozinho. Ao contrário, recebe a graça e a incumbência de reconhecer, discernir e unir os dons que o Espírito derrama sobre as pessoas e comunidades”.
Buscando a unidade, “os bispos são incentivados a inspirar e apoiar a participação de todos os membros do Povo de Deus que lhes foi confiado no processo sinodal”, afirma o documento das diretrizes para a implementação.
O texto menciona a importância das equipes sinodais como catalisadoras do processo sinodal nas igrejas locais. “São ferramentas fundamentais para a animação ordinária da vida sinodal das Igrejas locais”, pode-se ler.
“As equipes sinodais, com uma composição adequadamente diversificada, podem se tornar mais facilmente laboratórios de sinodalidade, experimentando internamente as dinâmicas que devem promover no Povo de Deus. O papel delas na fase de implementação é, primeiramente, promover e facilitar o crescimento do dinamismo sinodal”, revela o documento publicado em julho.
Em discernimento eclesial
O “método próprio de uma Igreja sinodal” é o “discernimento eclesial”, indicam as diretrizes para a implementação do Sínodo.
O documento lembra que “para garantir um bom processo de discernimento, é essencial ter uma definição clara dos objetivos, assegurando que sejam realistas e proporcionais ao tempo disponível, aos espaços utilizáveis e ao número de participantes envolvidos”.
Enfatiza ainda que “é vital que cada participante chegue adequadamente preparado e que o ambiente favoreça um clima de oração e disposição interna para ouvir e dialogar”.
Neste contexto, ressalta a importância do facilitador, apontando que os processos sinodais devem “contar com formas adequadas de facilitação” que permitam aos participantes se concentrarem “nas questões a serem discernidas”.
Neste âmbito, o documento menciona a “Conversação no Espírito” como “um instrumento de encontro” e de “crescimento nas relações”, especialmente na “transição do ‘eu’ para o ‘nós’”. O próprio DF destaca, em seu número 45, a importância da adoção do método da “Conversação no Espírito”.
Rumo à Assembleia Eclesial de 2028
Ademais, é importante ressaltar que o texto “Diretrizes para a fase de implementação do Sínodo”, aprovado pelo Papa Leão XIV e publicado pela Secretaria Geral do Sínodo na segunda-feira, 7 de julho, confirma o caminho delineado pelo Papa Francisco no documento de 15 de março deste ano de 2025.
Um percurso estruturado a partir das igrejas locais em direção a uma Assembleia Eclesial em outubro de 2028, em Roma.
A Secretaria Geral do Sínodo lembra as seguintes etapas no caminho sinodal:
– entre junho de 2025 e dezembro de 2026: processos de implementação nas Igrejas locais;
– no primeiro semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas dioceses;
– no segundo semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas conferências episcopais nacionais e internacionais, nas estruturas hierárquicas orientais e em outros agrupamentos de Igrejas;
– no primeiro quadrimestre de 2028: Assembleias continentais de avaliação;
– em outubro de 2028: celebração da Assembleia Eclesial no Vaticano.
O documento publicado em julho revela que o Papa Leão XIV decidiu criar mais dois grupos de estudo que se juntam aos já existentes. Um dos novos grupos irá investigar a “liturgia sob uma perspectiva sinodal” e o outro abordará o “estatuto das conferências episcopais, das assembleias eclesiais e dos Concílios Particulares”.
Chegou o tempo de implementar concretamente as conclusões do Documento Final do Sínodo na vida da Igreja. Com o Papa Leão XIV a caminho da Assembleia Eclesial de 2028.
(As opiniões expressas nos artigos publicados nas seções ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são de responsabilidade dos autores e refletem apenas suas visões pessoais.)
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