
Comemorar o Dia Internacional do Voluntariado, no dia 5 de dezembro, é celebrar aquilo que nos une como sociedade: a disposição de dedicar tempo, energia e atenção ao próximo sem esperar recompensas. É também reconhecer a imensa força silenciosa que apoia instituições, famílias e causas que, de outra forma, não teriam avanços significativos. Este tema me é caro tanto no âmbito institucional quanto no pessoal. A experiência de voluntariado moldou minha identidade e a forma como percebo o meu país.
Desde a infância, meus pais inculcaram em mim a importância de ajudar os outros. Não se tratava de algo extraordinário; era parte da nossa rotina. Ajudar nas tarefas diárias, cuidar da pequena horta na nossa casa de férias, envolver-se nas atividades familiares — tudo isso me mostrou que o voluntariado começa dentro de casa, nas pequenas atitudes que fortalecem o caráter e preparam para compromissos maiores.
Foi somente quando cresci que compreendi a verdadeira profundidade desse compromisso. Minha experiência na Casa Acreditar deixará marcas permanentes em mim. Era um desejo que eu acalentava há anos, um sonho finalmente realizado. Encontrei ali uma riqueza humana imensa, mas também uma realidade que me desafiou: percebi que apenas ajudar não é suficiente; é necessário ter um perfil emocional e psicológico que corresponda ao tipo de dor que encontramos. Essa experiência foi transformadora, impulsionadora e, ao mesmo tempo, dolorosa — pois nos confronta com os nossos limites.
Essa consciência despertou em mim uma nova responsabilidade: a de fazer mais por aqueles que, como eu, convivem com a surdez. Assim, fundei a OUVIR – Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos, que ainda hoje tenho a honra de presidir. Criar a OUVIR foi ao mesmo tempo um ato de voluntariado e de cidadania: um compromisso com uma comunidade que merece representação, informação e apoio. Recentemente, aceitei o desafio de organizar a Semana do Som em Portugal, na qualidade de Embaixador Oficial, sublinhando a importância de uma sociedade mais atenta à saúde auditiva e ao papel que o som desempenha em nossas vidas.
Contudo, a lição mais valiosa que extraio destas vivências é que o voluntariado é uma aprendizagem. E, por isso, deve ser ensinado. Portugal faria um grande progresso civilizacional se a noção de serviço e entrega ao próximo fosse cultivada de forma contínua nas escolas, desde os primeiros anos. Não me refiro a ações isoladas, mas sim a uma prática sistemática de “Educação Inclusiva e Voluntariado”, integrada ou conectada à disciplina de Cidadania, mas suficientemente abrangente para ser vivenciada ao longo de todo o ano. Duas ou três horas semanais seriam suficientes para que crianças e jovens entendessem, na prática, a importância de oferecer um pouco de si mesmos — seja através de pequenos projetos comunitários, apoio intergeracional, iniciativas ecológicas ou atividades escolares solidárias.
Ensinar a auxiliar não é apenas formar boas pessoas; é moldar seres humanos mais empáticos, mais conscientes e mais preparados para construir uma sociedade coesa. O voluntariado na escola seria, sem dúvida, uma das formas mais eficazes de combater o individualismo crescente e de fortalecer o senso de responsabilidade social.
Neste Dia Internacional do Voluntariado, deixo três reflexões: o voluntariado se inicia cedo, se expande pelo exemplo e transforma comunidades inteiras. Portugal deve reconhecer essa força, ampliá-la e integrá-la na educação, pois cada ato de voluntariado — por menor que pareça — contribui para a construção de um país mais robusto.
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