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A Calma como Estratégia de Oposição

Em um tempo em que cada um fala sem parar, escutar se tornou o gesto mais revolucionário. Estamos imersos em
A Calma como Estratégia de Oposição

Em um tempo em que cada um fala sem parar, escutar se tornou o gesto mais revolucionário.

Estamos imersos em sons — as vozes das opiniões, os comentários, os emojis, as trilhas sonoras de vídeos em looping, os avisos sonoros, o barulho das teclas e muito mais. Nesse oceano de ruído, o silêncio é quase uma ofensa.

Falar virou o novo modo de ficar em silêncio. Discorremos tanto que, na verdade, dizemos pouco. Contudo, aqueles que optam pelo silêncio correm o risco de serem mal compreendidos: o silêncio é frequentemente interpretado como apatia, desdém, falta de opinião, altivez ou fraqueza. Já ninguém cogita que essa possa ser uma escolha consciente.

Eugénio de Andrade proclamava: “é urgente o amor; é urgente persistir.” Contudo, atualmente, o que se torna urgente é preencher vazios com sons. Esse é o novo mandamento social. O silêncio, por outro lado, é frequentemente interpretado como desinteresse. Quem consegue resistir ao impulso de adicionar mais um som ao caos do mundo?

A sociedade demanda que estejamos sempre presentes e em reação. Preencher espaços com som, seja fisicamente ou no virtual, tornou-se uma imposição. E todos nós opinamos, avaliamos, justificamos, curtimos, respondemos, nos indignamos, aguardamos respostas imediatas, cada um tentando criar um som que se destaque, ou pelo menos, que seja diferente do outro. Mas, no final, é apenas mais um som.

O silêncio — a não resposta, a não publicação, a não reação — é o último ato de liberdade.

Existem silêncios que têm força. O silêncio que ouve em vez de gritar. O silêncio que reflete antes de reagir. O silêncio que possibilita aprender, pensar e entender. O silêncio que nos poupa de adicionar ainda mais ruído ao que já existe.

Nas tradições do Oriente, o silêncio é considerado uma forma de contemplação; aqui, confundimos expressão com existência.

Estou convencida, em palavras e escritos, de que o silêncio é uma presença escolhida, é respeito pelo individual, uma forma de resistência. Resistência à rapidez da visibilidade, que desenvolve, em uma velocidade alarmante, a crença perigosa de que quem não se manifesta, não existe.

Refletamos como um poeta, com amor, e antes de falarmos, escrevermos ou caricaturarmos: em um período em que somos constantemente pressionados a reagir e a falar incessantemente.

Talvez o verdadeiro ato de resistência seja optar por um intervalo para parar.

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