
Os vírus da gripe aviária representam um perigo significativo para os seres humanos, pois podem continuar se multiplicando a temperaturas superiores àquela de uma febre normal. A febre é uma das principais defesas do corpo contra infecções virais, mas novas pesquisas realizadas pelas universidades de Cambridge e Glasgow demonstram que esses vírus podem persistir em condições que geralmente inibem outros vírus.
Um estudo publicado em 28 de novembro na revista Science revela a descoberta de um gene que afeta fortemente a sensibilidade de um vírus ao calor. Durante as grandes pandemias de gripe de 1957 e 1968, esse gene foi transferido de vírus da gripe aviária para cepas de gripe humana em circulação, o que contribuiu para o sucesso dessas cepas.
Os vírus da gripe humana sazonal infectam milhões todos os anos. Esses comuns vírus da influenza A normalmente se reproduzem de forma mais eficaz nas vias aéreas superiores, onde as temperaturas médias estão em torno de 33°C. Eles não se espalham com a mesma eficiência nas vias respiratórias inferiores, que costumam estar mais próximas de 37°C.
Como a Febre Limita a Infecção e Por Que a Gripe Aviária Resiste a Ela
Os vírus se espalham pelo corpo quando não são contidos, o que pode resultar em doenças graves. A febre é uma resposta natural do organismo e pode elevar a temperatura corporal a até 41°C. Até recentemente, a maneira exata pela qual a febre inibe os vírus, e por que alguns conseguem suportar essa temperatura elevada, não era completamente compreendida.
Os vírus da influenza aviária agem de maneira diferente das cepas humanas. Eles tendem a se multiplicar nas vias respiratórias inferiores e, em seus hospedeiros naturais, como patos e gaivotas, muitas vezes infectam o intestino. As temperaturas nesses ambientes podem chegar a 40-42°C.
Pesquisas anteriores em células cultivadas sugeriram que os vírus da gripe aviária são mais tolerantes às temperaturas de febre do que os vírus da gripe humana. O novo estudo utilizou experimentos in vivo com camundongos infectados por vírus da influenza para esclarecer como a febre oferece proteção e por que essa proteção pode não ser suficiente contra as cepas aviárias.
Experimentos Mostram Por Que a Febre Inibe a Gripe Humana, Mas Não a Aviária
Na nova pesquisa, os cientistas de Cambridge e Glasgow replicaram as condições de febre em camundongos para observar a resposta do vírus. Eles usaram uma cepa de influenza de origem humana adaptada ao laboratório, conhecida como PR8, que não representa risco para humanos.
Os camundongos não costumam desenvolver febre ao serem infectados por vírus da influenza A, portanto os pesquisadores simularam essa condição elevando a temperatura do ambiente onde os camundongos estavam (aumentando assim a temperatura corporal dos animais).
Os resultados mostraram que elevar a temperatura corporal a níveis febris foi altamente eficaz em impedir a replicação dos vírus da gripe de origem humana. Entretanto, aumentos similares de temperatura não impediram os vírus da influenza aviária. Um aumento de apenas 2°C foi suficiente para transformar uma infecção mortal de influenza de origem humana em uma leve.
O Gene PB1 Ajuda a Gripe Aviária a Suportar a Febre
A equipe também descobriu que o gene PB1, que é essencial para a cópia do genoma viral dentro das células infectadas, desempenha um papel central na resistência à temperatura. Vírus que continham um gene PB1 semelhante ao aviário conseguiram tolerar as altas temperaturas associadas à febre e causaram doenças graves em camundongos. Essa descoberta é relevante porque os vírus da gripe aviária e humana podem trocar material genético ao infectarem o mesmo hospedeiro, como os porcos.
O Dr. Matt Turnbull, autor principal do estudo no Centro de Pesquisa Médica do Conselho de Pesquisa em Vírus da Universidade de Glasgow, afirmou: “A capacidade dos vírus de trocarem genes é uma fonte contínua de ameaça para novos vírus da gripe. Já vimos isso acontecer durante pandemias anteriores, como em 1957 e 1968, quando um vírus humano trocou seu gene PB1 com um de um vírus aviário. Isso pode ajudar a explicar por que essas pandemias causaram doenças graves nas pessoas.”
“É fundamental que monitoramos as cepas da gripe aviária para que possamos nos preparar para possíveis surtos. Testar vírus potenciais de transbordamento para verificar sua resistência à febre pode nos ajudar a identificar cepas mais virulentas.”
Altas Taxas de Fatalidade Tornam a Gripe Aviária uma Ameaça Global Persistente
O professor Sam Wilson, autor sênior do estudo no Instituto de Imunologia Terapêutica e Doenças Infecciosas da Universidade de Cambridge, comentou: “Felizmente, os humanos não costumam ser infectados por vírus da gripe aviária com frequência, mas ainda vemos dezenas de casos humanos a cada ano. As taxas de fatalidade da gripe aviária em humanos têm sido historicamente preocupantemente altas, como nas infecções H5N1, que causaram mais de 40% de mortalidade.”
“Compreender o que faz com que os vírus da gripe aviária causem doenças graves nos humanos é crucial para os esforços de vigilância e preparação para pandemias. Isso é especialmente importante devido à ameaça pandêmica representada pelos vírus aviários H5N1.”
Implicações para o Tratamento da Febre e Pesquisas Futuras
Segundo os pesquisadores, as descobertas podem, eventualmente, afetar as recomendações de tratamento, embora mais estudos sejam necessários antes de quaisquer mudanças. A febre é frequentemente tratada com medicamentos antipiréticos, incluindo ibuprofeno e aspirina. Algumas evidências clínicas sugerem que reduzir a febre pode não ajudar sempre os pacientes e pode até apoiar a propagação dos vírus da influenza A em humanos.
A pesquisa foi financiada principalmente pelo Conselho de Pesquisa Médica, com apoio adicional da Wellcome Trust, do Conselho de Pesquisa em Biotecnologia e Ciências Biológicas, do Conselho Europeu de Pesquisa, do programa Horizonte 2020 da União Europeia, do Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido, e do Departamento de Agricultura dos EUA.
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