
O total de pais agredidos por seus filhos que buscaram auxílio na Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) cresceu mais de 27% nos últimos três anos, superando 2.800 pessoas, o que equivale a uma média de 2,6 ocorrências diárias.
Conforme os dados estatísticos da APAV sobre “Filhos/as que agridem Pais/Mães”, os quais foram acessados pela Lusa, entre 2022 e 2024, o número de vítimas aumentou anualmente, com 815 registros no primeiro ano, 962 no ano seguinte e 1.036 em 2024.
Isso representa um incremento total de 27,1%, resultando em uma média de aproximadamente 78 pessoas assistidas a cada mês, 18 por semana e 2,6 por dia.
Em declarações à Lusa, Cynthia Silva, criminóloga na APAV, destacou que esse crescimento “pode indicar que mais vítimas estão buscando o apoio da APAV”, o que é um “ponto positivo”, mas também alertou sobre outra porcentagem, a de pessoas que permanecem em silêncio.
“Observamos que em 48% dos casos não há registro de queixa, o que indica que, apesar de uma possível maior demanda por apoio, ainda existem muitas situações que permanecem encobertas no que diz respeito à denúncia às autoridades”, informou.
Na visão da profissional, essa omissão e a recusa de vítimas em registrar queixa junto aos órgãos competentes pode ser atribuída ao fato de que muitos dos crimes ocorrem em um contexto de violência doméstica, onde agressor e vítima coabitam.
“As razões mais comuns para a falta de busca por apoio ou a não formalização de uma queixa estão muito ligadas a sentimentos de vergonha, culpa, e o embaraço de admitir que estão sendo agredidos por seus próprios filhos”, observou.
Ela ainda explicou que pode haver temor de represálias ou mesmo das repercussões legais que o pedido de ajuda ou a apresentação da queixa poderiam acarretar para o filho ou filha.
Segundo Cynthia Silva, apesar da violência da qual são alvo, os pais ainda desejam “proteger as perdas infratoras”, considerando que é o caso de seus filhos.
“Além disso, há outras razões, como a vontade de manter a aparência de harmonia familiar e a ilusão de que tudo está bem no seio familiar, ou situações de dependência”, acrescentou.
A especialista destacou que, como a maior parte desses delitos ocorre em contextos de violência doméstica, a APAV pode, em algumas situações, interpor queixa, uma vez que se trata de um crime de natureza pública, mas enfatizou que buscam sempre garantir que a vítima seja quem formalize a queixa, com o suporte da APAV.
A criminóloga também fez um alerta sobre a “questão da vitimização contínua”, mencionando que “uma significativa parcela” das pessoas que buscam auxílio na APAV pela primeira vez são vítimas há dois ou três anos, o que sugere que, muitas vezes, as vítimas demoram um certo período até conseguirem procurar ajuda mais profissional.
Os dados da APAV revelam que, dentre os 2.813 pais atendidos, 96,8% foram agredidos por um filho, enquanto 3,2% foram vítimas de mais de um filho ou filha.
O perfil das vítimas indica que, na maioria dos casos (79,7%), são mulheres, predominantemente com 65 anos ou mais (58,3%), enquanto a maioria (69%) dos agressores é composta por homens, com idades entre 18 e 64 anos (62,8%).
Entre os 5.654 delitos ou formas de violência registrados para essas 2.813 vítimas, a violência doméstica predomina, representando 82,3% do total.
Cynthia Silva defendeu que deveria haver mais serviços de acolhimento para as vítimas, mas apontou que “frequentemente há dificuldade em convencer as vítimas a deixarem suas residências”.
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