
O líder dos Estados Unidos, Donald Trump, está a ponderar o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk com alcance prolongado para a Ucrânia — uma escolha que, conforme o Kremlin, poderia “destruir” as relações entre Washington e Moscovo, mas que também tem o potencial de mudar significativamente o curso do conflito e enviar uma mensagem política forte ao governo russo.
Em declarações a jornalistas durante o voo a bordo do Air Force One em direção a Israel na madrugada de segunda-feira, Trump indicou que “poderá” dar luz verde para o envio das armas, ressaltando: “Veremos. Talvez eu diga: ‘Olhem, se esta guerra não for resolvida, vou enviar-lhes Tomahawks’.” O presidente acrescentou ainda: “Podemos não o fazer, mas também podemos fazê-lo. Creio que é importante trazer este assunto à discussão.”
Possíveis repercussões dos mísseis de longo alcance
O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, já havia insinuado em setembro que Washington poderia finalmente atender ao pedido de Kiev para a obtenção de mísseis Tomahawk, que são lançados a partir do mar e têm um alcance estimado de aproximadamente 2.500 quilómetros. O míssil equivalente na Rússia é o Kalibr, frequentemente utilizado em ataques contra a Ucrânia.
Apesar dos esforços de Trump em buscar um cessar-fogo na região do Leste Europeu, o progresso tem sido escasso, levando o presidente americano a se mostrar cada vez mais propenso a implementar ações que aumentem a pressão sobre Moscovo.
Conforme relatado pela Newsweek, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky declarou no domingo que havia conversado duas vezes com Trump em dois dias, discutindo o “reforço” das capacidades defensivas e de longo alcance da Ucrânia.
Reações de Moscovo e risco de intensificação
O governo russo alertou que o envio dos Tomahawk seria uma “escalada perigosa” no conflito, uma vez que Kiev precisaria de suporte técnico dos Estados Unidos para operar o sistema. O presidente Vladimir Putin afirmou recentemente que essa decisão significaria “a destruição das nossas relações” com Washington.
Por outro lado, Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, comentou nesta segunda-feira que “a entrega destes mísseis pode ter consequências negativas para todos — e, acima de tudo, para o próprio Trump”. Conhecido por suas declarações provocativas, Medvedev tem trocado farpas com o presidente americano nas redes sociais. Trump chegou a chamá-lo de “pessoa estúpida”, ao que Zelensky respondeu que, apesar das críticas, Medvedev “não é irrelevante”, uma vez que “reflete frequentemente o que Putin pensa, mas não verbaliza”.
Tomahawks e a capacidade militar ucraniana
Especialistas consultados pela Newsweek acreditam que a introdução dos Tomahawk aumentaria significativamente a capacidade ofensiva da Ucrânia, mesmo que não represente uma mudança isolada decisiva no conflito. Kiev tem investido no desenvolvimento de mísseis de fabricação própria, como o Neptune antinavio e o Flamingo, lançado a partir de terra, para compensar a falta de armamento ocidental e as limitações impostas ao uso de armamentos fornecidos pelo Ocidente.
Entretanto, Oleksandr Merezhko, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento ucraniano e membro do partido de Zelensky, enfatizou à Newsweek que “a Ucrânia necessita dos Tomahawk”. “Não sou adepto de soluções milagrosas, mas isso pode ser extremamente importante”, declarou.
William Freer, pesquisador do Council on Geostrategy no Reino Unido, observou que “os esforços da Ucrânia para atingir alvos dentro da Rússia seriam amplamente beneficiados pela posse de mísseis Tomahawk”. Segundo o especialista, os Estados Unidos possuem “vários milhares” dessas armas, mas é provável que apenas um número limitado seja enviado para Kiev, em função das suas necessidades estratégicas no Indo-Pacífico.
John Foreman, ex-adido de defesa britânico em Moscovo e Kiev, compartilhou a mesma opinião, considerando que os Tomahawk seriam “uma excelente adição ao arsenal ucraniano, permitindo que atacassem um maior número de alvos militares russos em território russo e a maiores distâncias”.
Um instrumento político de pressão sobre o Kremlin
Além da dimensão militar, o potencial envio dos Tomahawk carrega uma clara implicação política. Segundo Foreman, Trump busca usar a possibilidade de fornecimento dos mísseis como uma forma de pressionar Putin a voltar à mesa de negociações. “A Rússia compreende isso”, afirmou.
Na mesma linha, Merezhko afirmou que a ameaça de transferência das armas “oferece a Trump uma ferramenta para forçar Putin a negociar de maneira séria”. E William Freer acrescentou que, caso os Tomahawk cheguem à Ucrânia, “isso enviaria um forte sinal político de que Moscovo perdeu a oportunidade de explorar a hesitação de Washington para influenciar Kiev”.
Apesar de um encontro presencial entre Trump e Putin em agosto, no Alasca, o presidente americano ainda não conseguiu cumprir a promessa de pôr fim à maior guerra terrestre na Europa desde a II Guerra Mundial “em 24 horas”. Até o momento, a administração Trump tem evitado a imposição de sanções severas à Rússia, preferindo manter a pressão diplomática.
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