
Uma série de investigações e depoimentos de especialistas na área da ciência do sono indica que, apesar da liberdade quase ilimitada que os sonhos parecem oferecer — desde voar até a situações embaraçosas como fazer um exame sem roupas — existem aspectos cotidianos que raramente ou nunca aparecem durante o sono. A conclusão, divulgada pelo Daily Mail com base em entrevistas a pesquisadores como Kelly Bulkeley, Deirdre Barrett e Benjamin Baird, destaca cinco elementos praticamente ausentes na experiência onírica: smartphones, atividades de escrita, números, odores e gostos, além da própria imagem refletida da pessoa que sonha.
Baseando-se em milhares de relatos estudados por pesquisadores na área dos sonhos e do sono REM, os padrões se repetem e reafirmam a ideia de que o cérebro, ao sonhar, funciona de maneira distinta em relação ao estado de vigília, evitando informações que exigem alta precisão sensorial e cognitiva.
Uso intenso de smartphones contrasta com a quase total ausência nos sonhos
Embora a utilização diária média ultrapasse as três horas, os celulares raramente aparecem nos sonhos. Segundo o Daily Mail, uma análise de 16 mil relatos de sonhos indica que dispositivos móveis foram mencionados apenas em 3,55% dos sonhos de mulheres e 2,69% dos de homens — números significativamente inferiores a outros objetos modernos, como carros, que surgem em cerca de 9% dos sonhos.
A explicação, conforme a psicóloga Deirdre Barrett, da Universidade de Harvard, está na “sub-representação de temas ligados estritamente à vida contemporânea”, algo que, segundo ela, “contrasta com a predominância de cenários relacionados a ameaças ancestrais, como tempestades, cobras ou perseguições”. Essa ideia é compatível com a hipótese da simulação de ameaças, que sugere que os sonhos agem como um mecanismo evolutivo para treinar a mente em relação a perigos reais.
Escrita e leitura quase impossíveis durante o sono
Outra ausência significativa diz respeito à capacidade de ler. Nos raros momentos em que aparecem textos escritos, eles tendem a se degradar em símbolos estranhos ou a se transformar sempre que o sonhador tenta focar neles. Deirdre Barrett esclarece que “as áreas do cérebro associadas à linguagem são menos ativas durante o sono REM, e as responsáveis pela leitura têm ainda menos atividade”, o que inviabiliza a estabilidade necessária para que as palavras permaneçam legíveis.
Existem exceções pontuais entre escritores e poetas, que relatam conseguir identificar pequenas quantidades de texto — algo que os cientistas atribuem a uma maior ativação das áreas linguísticas mesmo durante o sono.
Números aparecem distorcidos e instáveis
A dificuldade em processar números nos sonhos segue um padrão semelhante ao da escrita. Cálculos, relógios ou sequências numéricas são raramente vistos e, quando aparecem, geralmente estão distorcidos ou mudam de forma com o desvio do olhar do sonhador.
Benjamin Baird, neurocientista da Universidade do Texas, explica que, ao contrário da percepção ao despertar, que depende de um fluxo contínuo de informações sensoriais, “os sonhos são criados de forma top-down, com pouca ou nenhuma entrada do mundo externo”. Essa instabilidade impede a reprodução coerente de detalhes finos, como números ou interfaces digitais.
Cheiros e sabores praticamente nunca são sentidos em sonhos
Apesar de ser comum sonhar com comida, a esmagadora maioria das pessoas não consegue perceber gostos ou cheiros enquanto dorme. Um estudo mencionado pelo Daily Mail revela que apenas cerca de 1% dos homens e pouco mais de 1% das mulheres relatam experiências olfativas em seus sonhos.
Kelly Bulkeley, diretor do Sleep and Dream Database, comenta que, embora odores e sabores façam parte da vida cotidiana, “quase nunca acrescentam algo às narrativas dramáticas que criamos durante o sono”, razão pela qual o cérebro tende a omiti-los.
A imagem refletida raramente corresponde à realidade
Desfazendo o mito de que é impossível ver-se ao espelho em um sonho, os pesquisadores explicam que tal pode acontecer — mas a imagem quase nunca corresponde à realidade. As pessoas costumam se ver distorcidas, envelhecidas, feridas ou até transformadas em uma figura completamente diferente.
Barrett observa que, em algumas ocasiões, os sonhadores ficam surpresos com essas transformações, mas, em outras, “nem sequer questionam a inconsistência”. A ciência ainda não conseguiu explicar completamente esse fenômeno, mas sugere estar relacionada à mesma instabilidade estrutural dos sonhos que impossibilita a reprodução fiel de rostos, textos ou números.
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