Os Estados Unidos celebram hoje o término de quase 20 anos de incentivos fiscais voltados à aquisição de automóveis elétricos. Esta decisão, aprovada pelo Congresso e ratificada pelo presidente Donald Trump, representa uma mudança significativa na política energética e ambiental do país, com efeitos imediatos sobre o setor automotivo.

Instituídos em 2008 para impulsionar a transição para formas de mobilidade mais sustentáveis, os subsídios permitiam deduções fiscais de até 7.500 dólares (cerca de 6.300 euros) na compra ou leasing de veículos novos, e até 4.000 dólares (aproximadamente 3.400 euros) para os usados.

A administração Biden havia ampliado o programa em 2022, estendendo-o aos contratos de leasing e eliminando limites por fabricante. Contudo, a nova legislação aprovada pelo Congresso este ano revogou definitivamente esses subsídios, assim como as penalizações para as montadoras que não atingissem metas de eficiência de consumo de combustível, conhecidas como Corporate Average Fuel Economy (CAFE).

Especialistas afirmam que esta combinação de medidas reduz significativamente a pressão sobre os fabricantes para priorizarem a produção de automóveis elétricos, favorecendo assim um retorno aos modelos de combustão interna.

A decisão já levou a General Motors (GM) a revisar sua estratégia. No começo de setembro, a empresa anunciou a suspensão, por várias semanas, da produção em sua planta de Spring Hill, no Tennessee, além de reavaliar a capacidade produtiva em Fairfax (Kansas City) e na unidade de CAMI, no Canadá.

“A eliminação dos subsídios exige uma reavaliação completa de nossa cadeia de produção”, afirmou a empresa em um comunicado.

Com o término anunciado para 30 de setembro, os consumidores norte-americanos se apressaram a adquirir veículos elétricos. Somente entre janeiro e março, foram vendidas mais de 360 mil unidades, um crescimento de mais de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior.

No entanto, esse crescimento está longe dos números verificados em anos anteriores. Em 2024, o aumento nas vendas foi de apenas cerca de 10%, após um salto de 40% em 2023, conforme dados da Agência Internacional de Energia (AIE).

O analista do setor automotivo Dan Levy, da Barclays, ressaltou em declarações à Reuters que a política de Trump terá impactos imediatos: “O término iminente dos incentivos para aquisição deverá provocar um aumento nas vendas de veículos elétricos nos EUA até o final de setembro, com consumidores antecipando compras que estavam planejadas para mais tarde.”

Levy acrescentou que a mudança legislativa “reforça a expectativa de um desacelerar na adoção de carros elétricos nos EUA, uma vez que tanto as ‘cenouras’ (incentivos) quanto os ‘paus’ (multas para os fabricantes) foram amenizados”.