
Os diamantes da mina Voorspoed, na África do Sul, trouxeram à luz a primeira evidência natural da formação de ligas metálicas ricas em níquel, localizadas nas profundezas do manto da Terra, entre 280-470 km. Um novo estudo revela que essas inclusões coexistem com carbonatos ricos em níquel, capturando um raro instante de uma reação de “congelamento redox”, na qual derretimentos oxidadas penetram em rochas do manto em estado reduzido. O diamante em crescimento aprisionou tanto os reagentes quanto os produtos de uma reação formadora de diamantes. Essa descoberta não só valida previsões sobre as condições redox do manto, mas também ressalta como tais processos podem ser responsáveis pela formação de magmas ricos em voláteis que erupcionam a partir de centenas de quilômetros, trazendo o diamante à superfície.
O manto terrestre é uma máquina inquieta e enigmática que impulsiona a vulcanismo, recicla a crosta e regula a evolução a longo prazo do planeta. No entanto, uma de suas características mais elusivas — o estado redox, ou o equilíbrio dos espécies químicas oxidadas e reduzidas — ainda é difícil de medir diretamente. Um novo estudo liderado por Yael Kempe e Yaakov Weiss, do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Hebraica, oferece um vislumbre raro desses processos profundos, registrados em nano e micro-inclusões nos diamantes da mina Voorspoed.
Uma Descoberta Rara nas Profundezas
Durante décadas, modelos e experimentos em alta pressão sugeriram que ligas metálicas ricas em níquel deveriam se estabilizar no manto a profundidades de aproximadamente 250-300 km. No entanto, amostras naturais que confirmassem essas previsões têm sido extremamente escassas.
Trabalhando em colaboração com colegas da Universidade de Nevada, da Universidade de Cambridge e do Nanocenter da Universidade Hebraica, a equipe de Weiss identificou agora nano-inclusões metálicas de níquel-ferro e microinclusões de carbonato ricas em níquel preservadas dentro de diamantes que se formaram entre 280-470 km abaixo da superfície da Terra. Essas inclusões representam a primeira evidência direta de ligas ricas em níquel na profundidade prevista — uma validação há muito esperada dos modelos redox do manto.
Os diamantes também contêm coesita, fases aluminous ricas em potássio e inclusões de nitrogênio sólido molecular, o que oferece múltiplos marcadores de pressão que restringem firmemente sua origem ao profundo manto superior e à zona de transição rasa.
Instantâneas Redox Congeladas em Carbono
A importância dessa descoberta vai além da simples confirmação dos modelos teóricos. A coexistência de liga de níquel-ferro e carbonato rico em níquel indica uma reação redox-metassomática — uma interação dinâmica na qual um derretimento carbonatítico-silícico oxidados infiltrou um peridotito reduzido, rico em metais. Isso se une a evidências anteriores de profundidades menores indicando que essa é a principal forma de formação de diamantes naturais.
Nesse ambiente, a oxidação preferencial do ferro em relação ao níquel levou ao enriquecimento da liga residual em níquel. Ao mesmo tempo, carbonatos ricos em níquel e diamantes cristalizaram a partir do derretimento. De fato, os diamantes congelaram um momento geoc químico fugaz: a transformação de uma rocha do manto reduzida em um domínio mais oxidado e rico em voláteis, e a redução de carbonatos para formar diamantes.
“Essa é uma rara captura da química do manto em ação”, afirma Weiss. “Os diamantes atuam como pequenos cápsulas do tempo, preservando uma reação que, de outra forma, desapareceria à medida que os minerais se reequilibram com seu entorno.”
Implicações para a Dinâmica do Manto e Magmatismo
Essas descobertas possuem amplas implicações. Se reações metassomáticas localizadas oxidam periodicamente pequenas porções do manto, isso pode ajudar a explicar por que algumas inclusões em outros diamantes superprofundos registram condições oxidantes inesperadamente altas.
Tais processos também esclarecem as origens de magmas ricos em voláteis. O enriquecimento do peridotito do manto em carbonato, potássio e elementos incompatíveis durante esses eventos redox poderia preparar o manto para a formação posterior de kimberlitos, lamprofitas e até alguns basaltos de ilhas oceânicas. Em outras palavras, as pequenas inclusões nos diamantes da Voorspoed sugerem conexões em larga escala entre subducção, dinâmicas redox do manto e a geração de magmas que moldam continentes e trazem diamantes à superfície.
Diamantes como Testemunhas do Manto
O estudo ressalta o valor científico dos diamantes como mais do que apenas pedras preciosas. Suas inclusões — sejam ligas em escala nanométrica ou minerais de alta pressão — oferecem um dos únicos registros naturais das condições a centenas de quilômetros abaixo de nossos pés.
O trabalho de Kempe e Weiss marca um marco: a primeira confirmação natural de ligas ricas em níquel em profundidades do manto previstas pela teoria, e uma ilustração vívida de como a paisagem redox profunda da Terra Evolui por meio da interação entre meltes e rochas.
À medida que os pesquisadores continuam a examinar essas cápsulas minerais do tempo, podemos descobrir que os diamantes, antes símbolos de permanência, também são narradores de mudanças — testemunhando a química oculta do manto e os processos que continuam a moldar nosso planeta dinâmico.
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