Segundo informações do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), atualmente, existem aproximadamente 30 leitos indisponíveis no Hospital de São José (nas áreas de Medicina e Neurocirurgia), oito no Hospital Dona Estefânia (na especialidade de Cirurgia), 35 no Hospital de Cascais (em Medicina e Cirurgia), sete no Hospital de Santa Maria (na Pneumologia e na Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos) e seis no Hospital Amadora-Sintra (na especialidade de Ortopedia).

De acordo com a enfermeira Isabel Barbosa, membro da Direção Nacional do SEP, esses são apenas alguns exemplos, com a situação se repetindo, em escala variável, em praticamente todos os hospitais na região de Lisboa. O fechamento de leitos hospitalares devido à falta de enfermeiros é uma questão antiga, mas que tem se tornado mais crítica. “Essa é uma situação que já perdura há alguns anos, mas que se agravou recentemente”, enfatiza a profissional.

“O fechamento de leitos é um problema sério, alerta também a vice-presidente da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE), Álvara Silva. Os hospitais enfrentam dificuldades para atrair esses profissionais, especialmente na área de Lisboa, onde o custo de vida é mais elevado. “O custo de vida aumentou e é alto. Um enfermeiro recebe cerca de 1.200 euros líquidos, o que não é suficiente para cobrir o valor do aluguel de um apartamento em Lisboa”, destaca o presidente da APAH, Xavier Barreto.

A escassez de moradias a preços acessíveis é uma questão que já foi identificada há bastante tempo pela Ordem dos Enfermeiros, que já apresentou ao Governo a proposta de um subsídio para aluguel. “Sugerimos ao Ministério da Saúde a criação de incentivos para fixação, com subsídios para aluguel destinados aos enfermeiros que se deslocassem para a região da Grande Lisboa, mas não obtivemos retorno”, menciona Luís Barreira. A proposta foi feita à atual equipe governamental, mas ainda não teve resposta.

<p“No início da carreira, o salário-base de um enfermeiro é de 1.547 euros. Se não realizar turnos noturnos ou fins de semana, e horas extras, acaba ganhando menos do que isso. Com um salário assim, é praticamente inviável viver em Lisboa”, alerta a vice-presidente da ASPE.

O custo elevado de vida constitui um dos fatores que diminui a atratividade do Sistema Nacional de Saúde e leva, conforme afirmam os sindicatos, a que muitas vagas abertas pelas Unidades Locais de Saúde permaneçam sem preenchimento ou parcialmente ocuadas. Em declaração ao Observador, a ULS de São José, uma das mais impactadas, reconhece o fechamento de leitos, assegurando que “tem realizado todos os esforços necessários para recrutar enfermeiros, tendo aberto concursos para formação de reservas de recrutamento, mas os mesmos se esgotam sem atender às demandas da ULS.”

A ULS do Estuário do Tejo, que inclui o Hospital de Vila Franca de Xira, admite que “tem encerrado, ocasionalmente, alguns leitos, por problemas relacionados às gestões de recursos humanos” (especialmente nos serviços de Medicina e Obstetrícia), reconhecendo as dificuldades no recrutamento. “A ULS Estuário do Tejo mantém uma política contínua e ativa de atração e retenção de profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, em um cenário de escassez significativa”, informa uma fonte da unidade de saúde.

A ULS Lisboa Ocidental (abrangendo os hospitais São Francisco Xavier, Egas Moniz e Santa Cruz) “relata que 24 leitos estão inativos”, especialmente nas áreas de Medicina, e garante que está realizando “diversos processos de recrutamento de enfermeiros” para atender às necessidades emergentes.