
Durante anos, temos aceitado a noção de que os sindicatos de professores são os verdadeiros defensores dos educadores. Contudo, a realidade é bem diferente. Os sindicatos não realizam negociações significativas, não influenciam trajetórias de carreira, não promovem melhorias nas instituições de ensino, e não solucionam questões — limitam-se a dramatizar conflitos, gerar barulho e manter sua própria relevância política. No fundo, atuam em um teatro repetitivo onde nada se altera, pois nada pode se alterar.
A Educação em Portugal não está estagnada por falta de recursos, talento ou até mesmo consenso sobre os problemas existentes. Está presa a estruturas que se beneficiam da estagnação. O poder sindical — que não representa mais uma negociação autêntica, mas sim uma resistência sistemática — é o exemplo mais claro disso.
Por essa razão, defendo, de forma contundente, a criação de uma Ordem dos Professores. Não como uma mera entidade adicional a somar-se às que já existem, mas como a instituição que finalmente liberta o sistema educativo da influência sindical e devolve a profissão docente ao que realmente deveria ser: uma profissão regulada com rigor, exigência e responsabilidade.
Os sindicatos podem continuar a realizar conferências de imprensa, plenários e manifestações. No entanto, o poder de determinar a profissão — a formação, a certificação, a ética, a qualidade, a supervisão — deve ser transferido para uma Ordem. E aqui não há rodeios: é necessário retirar esse poder dos sindicatos, pois nunca deveria ter pertencido a eles.
A situação atual é absurda. Médicos, engenheiros, advogados, farmacêuticos, economistas — todos estão sujeitos à regulação de instituições independentes, com regras bem definidas e exigências profissionais. Somente os docentes permanecem sob uma lógica de pressão e ruídos, sem qualquer mecanismo sério de garantia de qualidade. Isso é injusto para os educadores competentes e prejudicial para os alunos.
Entretanto, a maior desigualdade do sistema não reside apenas aqui. Está na forma como tratamos professores de escolas públicas e do ensino privado e cooperativo como se fossem categorias distintas. A profissão é a mesma, os desafios são similares, o impacto social é equivalente — mas o reconhecimento, o status e até a progressão continuam segregados.
Uma Ordem dos Professores seria a primeira entidade verdadeiramente inclusiva, capaz de unificar a profissão, assegurar igualdade de critérios e responsabilidades, e eliminar a ilusão de que existem docentes de primeira e de segunda classe.
Mas chegamos à ferida mais profunda da Educação em Portugal: o sistema de contratação. É um mecanismo desumano, que destrói a estabilidade, ignora o mérito e impede qualquer lógica de projeto pedagógico. Professores são movidos como peças de um tabuleiro, escolas não têm autonomia para escolher, alunos perdem continuidade pedagógica, municípios não têm voz, e a qualidade fica ao acaso.
Esse sistema persiste porque interessa ao poder central e porque os sindicatos dependem da ilusão de que defender a igualdade é desconsiderar a competência. A criação de uma Ordem — com padrões profissionais claros e independentes — permitiria finalmente estabelecer um modelo de contratação racional, estável e justo, onde escolas e educadores podem escolher mutuamente, como acontece em países com sistemas mais avançados.
E, por fim, a formação. Portugal está repleto de mestrados, como se os títulos acadêmicos fossem sinônimo de qualidade. Não são. Um mestrado pode ser benéfico, mas não forma um bom professor. Não ensina a lidar com turmas desafiadoras, não cria empatia, não desenvolve habilidades de comunicação, não garante rigor pedagógico.
A profissão se aprende na prática. A profissionalização em serviço deve começar logo cedo, muito cedo. Com supervisão real, com avaliação consistente, com acompanhamento contínuo. E é a Ordem — não as universidades, não o Ministério, e certamente não os sindicatos — que deve exigir e monitorar isso.
Em Coimbra, observo diariamente as consequências desse modelo ultrapassado: escolas públicas e privadas tentando colaborar apesar das barreiras artificiais; direções sem autonomia; educadores talentosíssimos exaustos; alunos mudando de docente por conta do concurso. Não falta humanismo — falta estrutura.
A criação de uma Ordem dos Professores representa o reconhecimento de que o país está finalmente disposto a tratar a Educação com seriedade. É transferir poder de quem não assume responsabilidades e atribuir responsabilidades a quem deve ter poder. É substituir o barulho por rigor, a militância por profissionalismo, a paralisia por exigência.
Os sindicatos não ficarão felizes. Isso não é um problema.
Portugal precisa decidir se quer atender a estruturas que já não realizam negociações significativas — ou construir um sistema educativo que realmente funcione.
Se almejamos uma revolução na Educação, ela começa aqui.
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