
No decorrer deste fim de semana, os relógios em Portugal serão atrasados para o horário de inverno, uma tradição anual. Contudo, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, está a desafiar esta prática, defendendo a sua eliminação na Europa, ao afirmar que “não resulta em maior economia de energia” e “perturba os ritmos circadianos” duas vezes ao ano, conforme reporta o jornal espanhol ‘El Mundo’.
A ideia não é nova. “Já houve tentativas na União Europeia que não prosperaram devido à falta de acordo”, recorda Carlos Egea, pneumologista e coordenador das Perturbações Respiratórias do Sono da Federação Espanhola das Sociedades de Medicina do Sono. Apesar disso, os especialistas consideram positivos os debates em torno do tema. “Do ponto de vista científico, é encorajador. Há mais de uma década que defendemos que o organismo humano precisa de se alinhar com a luz solar ao amanhecer, sendo mais benéfico manter um horário fixo”, acrescenta Egea.
Efeitos na saúde e na comunidade
Estudos científicos apoiam essas alegações. Evitar a mudança de horário pode diminuir o número de casos de insónia, obesidade, acidentes rodoviários e até mesmo AVCs. Uma análise da Stanford Medicine sugere que a adoção de um horário permanente poderia evitar até 300.000 casos de AVC e 2,6 milhões de casos de obesidade anualmente.
O problema, conforme os especialistas, é que os cidadãos já estão desalinhados em relação ao ciclo natural. Espanha, assim como Portugal, apresenta uma das menores médias de horas de sono durante a semana, com hábitos de dormir tarde e acordar cedo, compensando com dormidas prolongadas aos fins de semana. Este fenômeno, denominado jet lag social, provoca a dessincronização do corpo, tornando as segundas-feiras especialmente difíceis, detalha Egea.
A mudança de horário agrava esse desequilíbrio. “Mesmo que a alteração seja apenas de uma hora, já causa impacto no nosso organismo. Afeta o sono, altera a produção de melatonina e os níveis de cortisol. É suficiente para nos deser cronizar”, alerta Francisco José Martín, médico desportivo e cardiologista pediátrico. Os mais vulneráveis são os idosos e as crianças, cujos relógios biológicos são mais sensíveis e podem levar até uma semana a adaptar-se.
A luz natural como reguladora do relógio biológico
A questão principal é a modificação da exposição à luz natural, que é crucial para o funcionamento do relógio central no cérebro. A ciência indica que o horário de verão ajusta-se melhor ao ciclo solar, permitindo que o relógio social se alinhe com o relógio biológico. “Somos criaturas diurnas. Para funcionarmos adequadamente, necessitamos de luz pela manhã e escuridão à noite. Isso é alcançado de forma mais eficiente com o horário de verão”, afirma Egea.
Se o horário de verão fosse mantido durante todo o ano, certas regiões de Espanha e Portugal não teriam luz natural até após as 9h30 no inverno, atrasando o despertar e desorientando o relógio biológico. Esta disparidade altera o ciclo de sono-vigília, a secreção hormonal, o apetite, a concentração e o humor, provocando irritabilidade e apatia.
Medidas simples podem minimizar os impactos
Para conter esses efeitos, os especialistas aconselham a exposição à luz natural pela manhã, a manutenção de horários regulares e a limitação do uso de dispositivos eletrônicos à noite. “O tratamento mais eficaz é gratuito: a luz solar”, recorda Egea. Martín adiciona que a mudança de horário surgiu com propósitos industriais e econômicos, mas essa lógica não se alinha mais com a biologia humana. “A capacidade de hiperprodução da indústria já não é compatível com a saúde do ser humano”, alerta.
O debate atual é visto como um avanço na consideração da cronobiologia nas políticas públicas. “É encorajador que a cronobiologia esteja a ser levada em conta nas decisões governamentais”, conclui Martín, realçando a importância de harmonizar os horários humanos com os ritmos naturais para salvaguardar a saúde cardiovascular, metabólica e mental.
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