
Os adeptos do Benfica despertaram para mais uma noite de competição europeia com a confiança de quem já conhece bem a senha do Wi-Fi de casa – segura, estável e sem interrupções, tal como as operadoras garantem, mas raramente mantêm. O Benfica enfrentava o Qarabağ, um clube do Azerbaijão cujo nome, para muitos torcedores, evoca mais uma marca de carpetes ou um festival de kebabs do que um rival respeitável na Liga dos Campeões, sendo mais apropriado para a Liga Europa.
Na Luz, sentia-se uma autoconfiança quase desmedida. “Menos de três é derrota”, dizia um torcedor, empunhando um courato. As casas de apostas apontavam o Benfica como favorito absoluto e, nos bastidores, Bruno Lage parecia mais preocupado em administrar o elenco do que com o resultado da partida. A trama se desenrolaria, pensava ele.
O apito inicial trouxe exatamente o que todos presumiam: um Benfica dominador, controlando a posse de bola, com suas linhas avançadas, enquanto o Qarabağ se via encurralado, ansioso pelo apito que marcasse o intervalo, ainda com apenas 10 minutos de jogo. O público mal havia se acomodado quando os encarnados abriram o placar, com Barrenechea. Aos 16 minutos, Pavlidis fez o segundo e a Luz explodiu em euforia.
Era previsível, afinal o grupo encarnado tinha um investimento superior ao PIB de parte da Liga Azeri. Com o estádio lotado e alinhado com a lógica do futebol contemporâneo, jogos dessa natureza eram vistos como oportunidades para ampliar a diferença de gols, e esperava-se uma goleada. Contudo, como o torcedor já havia afirmado, menos de três seria considerado uma derrota, e assim se concretizou.
Bruno Lage mantinha-se calmo no banco. Se pudesse, já teria pensado em substituir Rìos por Barreiro, apenas para proporcionar minutos de jogo. Até aquele momento, o Qarabağ limitava-se a observar os eventos, sem grande intensidade ou soluções criativas.
No entanto, o detalhe que separa os clubes grandes dos inteligentes fez-se notar: o Qarabağ não entrou em desespero. Mantiveram o foco, como se segurassem uma nota de cinquenta euros que flutuava ao vento. Aos poucos, foram ganhando confiança, enquanto os encarnados deixavam a intensidade de lado, pensando que o jogo já estava decidido. Por isso, não surpreendeu que, aos 30 minutos, os azeris conseguissem marcar seu primeiro gol.
Não sei o que Lage disse aos jogadores durante o intervalo, mas o Benfica retornou para a segunda parte como se estivesse de pijama, pantufas e com um chá relaxante. O Qarabağ, por outro lado, apareceu revigorado, como se realmente estivesse sentindo uma luz ao fim do túnel.
Logo aos 48 minutos, os azeris conseguiram empatar! Foi como um banho de água fria que ainda parecia suportável. Alguns torcedores começaram a sentir o coração acelerado e a transpiração fria, mas ainda acreditavam que havia tempo suficiente.
O problema era que a equipe estava tensa. Lage efetuou quatro substituições, mas o destino da sua equipe parecia traçado, recebendo a mensagem de despejo através de Kashchuk, que anotou o gol da vitória do Qarabağ aos 86 minutos.
Não foi Azeri, foi um equívoco monumental.
O Benfica tentou reagir, mas já era tarde. Era como tentar remendar um prato quebrado com chiclete. O público começou a assobiar, alguns deixavam as arquibancadas e, no gramado, os jogadores encarnados avistavam mais lenços brancos do que a própria Nossa Senhora em Fátima.
O apito final não foi apenas o encerramento de um jogo, mas a cláusula de um projeto, se é que podemos chamá-lo assim. O Benfica conseguiu a proeza de liderar por 2-0 em casa contra um oponente acessível e ainda assim transformou a partida em um pesadelo psicológico.
Para os fãs, foi uma noite de humilhação histórica. Para a diretoria, foi o ponto de ruptura. Bruno Lage, que já vinha perdendo prestígio devido a apresentações insatisfatórias e um empate vexatório contra o Santa Clara, não resistiu à pressão. O treinador, que sempre demonstrou serenidade, saiu do banco com a consciência de que havia tido sua última lição na Luz.
Assim se encerrou a segunda passagem de Lage pelo Benfica: não com uma vitória convincente ou um projeto sólido, mas com uma reviravolta que poderia figure em um manual de como não gerir um jogo europeu. Isso me soou como um déjà vu. O Qarabağ entrou para a história da competição e o Benfica tornou-se alvo de piadas na cena europeia.
Parece que José Mourinho está a caminho, curiosamente, o Benfica contrata o treinador que o levou à Liga dos Campeões somente três semanas atrás.
No fundo, fica a lição de que, no futebol, não existem vitórias garantidas e se um clube português acredita que pode relaxar no intervalo, sempre haverá um Qarabağ preparado para escrever a piada da semana.
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