Hoje e amanhã, diversos especialistas se reúnem para discutir a obra do autor David Mourão-Ferreira (1927-1996) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), com uma apresentação musical de um fadista ao final do evento de hoje.
O colóquio sobre o autor de Um Amor Feliz será iniciado por José Carlos Seabra Pereira, doutor pelas universidades de Poitiers (França) e Coimbra, atualmente professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e na Universidade Católica, que apresentará um trabalho intitulado “As lágrimas jubilosas de Eros e o desejo gnóstico do Espírito em David Mourão-Ferreira”. Em seguida, Paula Morão, professora emérita da FLUL, discutirá a obra do autor sob a perspectiva de crítico de poesia.
O ex-presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Artur Anselmo, fará uma apresentação sobre “David Mourão-Ferreira, mestre e discípulo”, enquanto o poeta Fernando Pinto do Amaral oferecerá uma “perspectiva retrospetiva” sobre o criador de Tempestade de Verão (1954). Helena Buescu, especialista em Literatura Comparada e Literatura Portuguesa, explorará a vertente tradutora do autor durante a parte da tarde.
A sessão de hoje incluirá ainda Fátima Marinho, catedrática jubilada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que apresentará “O jogo arriscado e sedutor dos lugares imprescindíveis”, seguida por Rui Vieira Nery, musicólogo, que comentará o papel de David Mourão-Ferreira na renovação poética do Fado e sua contribuição com a faixa Abandono (de Fado Peniche, de Alain Oulman).
O dia terminará com a apresentação de um fadista que tem incorporado a poesia do autor em seu repertório, conforme indicou uma fonte da organização à agência Lusa.
A programação de amanhã incluirá um painel com os pesquisadores Teresa Martins Marques, Daniel-Henri Pageaux, José Manuel Vasconcelos, Elisa Rossi e Cristina Pimentel, abordando temas como “David Mourão-Ferreira nos caminhos de Pessoa”, suas “leituras em língua francesa” e os “referências da Antiguidade” em sua poesia. Joana Machado discutirá os “ecos clássicos” presentes na obra do autor.
No período da tarde, seu filho, o produtor David Ferreira, refletirá sobre as “memórias pessoais” do pai, enquanto o colóquio se encerrará com a apresentação de Arnaldo Saraiva, professor emérito da Universidade do Porto, que falará sobre “E fica todavia, toda a vida, / o que nem se sonhava que ficasse” (Memória jubilosa de um mestre e amigo).
David Mourão-Ferreira nasceu em Lisboa em 1927, onde se formou em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, instituição onde também viria a lecionar.
Ele colaborou ativamente com diversas publicações, incluindo o extinto Diário Popular e a revista Seara Nova, e participou da fundação da revista Távola Redonda.
Fez também aparições regulares na televisão, apresentando programas como Hospital de Letras e Imagens da Poesia Europeia.
Após opor-se ao fechamento forçado da Sociedade Portuguesa de Escritores em 1965, viu-se afastado de suas colaborações com a televisão e a rádio estatal (RTP e Emissora Nacional), além de ser excluído do ensino oficial.
Embora tenha sido proposto, em 1967, para retornar à Faculdade de Letras de Lisboa, só voltou ao ensino universitário em 1970, recebendo gradualmente os títulos de professor auxiliar convidado e professor extraordinário (em 1975), e, a partir de 1990, de catedrático convidado.
Após o 25 de Abril de 1974, assumiu a direção do diário A Capital e ocupou o cargo de secretário de Estado da Cultura em duas ocasiões, de 1976 a 1979.
David Mourão-Ferreira colaborou com o compositor Alain Oulman e a icônica fadista Amália Rodrigues, resultando em fados como Maria Lisboa, Madrugada de Alfama e Anda o Sol na Minha Rua, além de Abandono, entre outros.
Artistas como Simone de Oliveira, Mercês da Cunha Rêgo, Celeste Rodrigues, Carminho, Mariza e Camané também interpretaram suas poesias.
Na Fundação Calouste Gulbenkian, foi diretor do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas desde 1981, além de ter liderado o Boletim Cultural e a revista Colóquio/Letras desde 1984 até sua morte em 1996.
Em termos literários, debutou em 1950 com a obra A Viagem. Ao longo de sua carreira, produziu mais de 20 títulos, abrangendo poesia, ensaio, contos e um único romance, Um Amor Feliz (1986), que lhe conferiu várias distinções, incluindo o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores.
O autor de As Lições do Fogo (1976) foi agraciado também com o Prêmio Ricardo Malheiros (1959), o Prêmio de Crítica (1980) da Associação Portuguesa de Críticos Literários, e o Grande Prémio de Romance e Novela, além dos prêmios D. Diniz e Município de Lisboa, todos em 1986. Recebeu o Prêmio P.E.N. de Novelística em 1987 e o prêmio Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores em 1996.
Em 1981, foi condecorado pelo Estado português como Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada e, em 1996, elevado à Grã-Cruz da mesma Ordem.
David Mourão-Ferreira faleceu em Lisboa, em 1996, aos 69 anos.
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