
Por Rui Couto Viana, co-diretor do Programa Avançado de Retiro de Liderança da Porto Business School; e Ana Côrte-Real, diretora de Relações Acadêmicas e Empresariais e co-diretora do Programa Avançado de Retiro de Liderança da Porto Business School
A realidade contemporânea apresenta uma contradição intrigante e desafiadora para os líderes. Nunca tivemos tanto acesso a tecnologia, informações, educação e recursos de gestão — mas o papel do líder tornou-se mais exigente, complexo e humano do que nunca. Este é o dilema do líder atual: equilibrar forças que parecem diametralmente opostas, como autoridade e fragilidade, rigor e imaginação, intimidade e visão de longo prazo.
Warren Bennis destacou que “os líderes são moldados ao longo do tempo, não nascem prontos”, enfatizando que liderança é um processo contínuo de evolução. Daniel Goleman complementou essa perspectiva ao evidenciar que a inteligência emocional — a habilidade de reconhecer e gerenciar as próprias emoções e as dos outros — pode ser mais crucial para a eficácia de um líder do que seu QI. Ronald Heifetz, por sua vez, com sua teoria da liderança adaptativa, enfatiza a importância de os líderes se prepararem para enfrentar a incerteza e a ambiguidade, orientando as pessoas em ambientes desconhecidos.
O desafio dos líderes vai além de traçar estratégias, envolve também a capacidade de comunicar de maneira clara e inspiradora, fomentar a confiança e desenvolver a resiliência. Não se trata apenas de dirigir equipes; é essencial criar ambientes em que cada indivíduo sinta que pode contribuir, inovar e evoluir. A liderança se transformou de uma prática de comando em uma prática de influência e conexão, perpetuando a essência da relação entre o eu e a equipe.
Esses paradoxos se manifestam diariamente: o líder precisa tomar decisões rápidas, mas também deve reservar tempo para a reflexão. Ele deve projetar confiança em momentos de crise, mas sem ocultar sua vulnerabilidade, que o torna humano e acessível. É necessário inspirar com uma visão nítida, mas também escutar ativamente e integrar diferentes pontos de vista.
A liderança contemporânea é, portanto, menos sobre certezas e mais sobre encontrar um equilíbrio. Um equilíbrio entre resultados e pessoas, entre inovação e tradição, entre desempenho e bem-estar. É neste jogo de tensões que o verdadeiro líder se destaca e gera valor.
Em essência, liderar hoje significa acolher esses paradoxos como parte da realidade. É aprender a lidar com a complexidade e transformá-la em oportunidades. É cultivar a audácia de ser firme, mantendo a empatia, de ser resiliente sem se fechar para a mudança, e de ser inovador sem perder a autenticidade.
Talvez essa seja a maior lição: a liderança moderna não se baseia na eliminação de paradoxos, mas na habilidade de conviver com eles — e de torná-los uma fonte de impacto e inspiração.
Como isso é possível? Naturalmente, não há uma única resposta. Mas uma certeza persiste: os líderes frequentemente precisam se distanciar de suas equipes e contextos para adquirir uma nova perspectiva — e se reunir com outros líderes para refletir sobre suas vivências, pois é nesse espaço de afastamento e proximidade (mais um paradoxo) que eles reencontram clareza, propósito e a força necessária para voltar a inspirar.
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