
Cristiano Piccini falou sobre alguns desafios relacionados à saúde mental que impactaram sua trajetória profissional, especialmente após sua chegada ao Sporting na temporada de 2017/18.
“Eu entrava no Twitter, procurava por ‘Piccini’ e meu dia já estava arruinado. Cinquenta comentários eram positivos, mas três eram negativos, e eu apenas me concentrava nesses últimos. Por muito tempo, não consegui lidar com isso. Após assinar com o Sporting, antes mesmo de chegar a Lisboa, já era considerado um péssimo jogador. Os torcedores do Betis comentavam isso e os do Sporting acabavam lendo”, começou a relatar em uma entrevista à ‘Gazzetta dello Sport’.
Em seguida, o ex-atleta reconheceu que precisou se desconectar das opiniões públicas, pois não poderia ter “pensamentos tóxicos” ao jogar na Liga dos Campeões.
Piccini relembrou seus tempos no Sporting, compartilhando as escolhas que fez para melhorar seu bem-estar.
“Durante meu tempo no Sporting, comecei a praticar ioga e encontrei um professor para conversar. Isso me fez sentir melhor, e a partir daí tudo começou a mudar. Quando você entra nesse ciclo negativo, não quer fazer nada, não fala com ninguém, não quer parecer fraco. Pensamos que somos indestrutíveis, mas não somos. Temos que aceitar que é importante mostrar vulnerabilidade. Você precisa ser honesto consigo mesmo e liberar tudo que está te prejudicando. Isso é uma grande virtude, um ato de força significativa e amor próprio”, continuou.
Após se retirar recentemente do futebol, o ex-jogador do Sporting enfatizou que é fundamental que medidas sejam tomadas no meio esportivo para valorizar a saúde mental dos atletas.
“Esqueçam o dinheiro, casas luxuosas e carros caros… Quando alguém é deixado sozinho com sua dor, isso é devastador. O clube, assim como acode o jogador quando está machucado, deveria ter alguém disponível para apoiar na assimilação e superação dessas dificuldades. ‘Por que isso aconteceu comigo? O que eu fiz para merecer isso? Agora que tenho tudo e estou até recém-casado, por que estou assim, sozinho, e não sei como lidar com isso?’ Não tenho certeza do que é certo ou errado. Os clubes deveriam cuidar para que os jogadores não se sintam tão isolados. Não somos apenas contratos a serem geridos quando nos lesionamos, somos um ativo valioso para a equipe.”
No entanto, Piccini também falou sobre sua passagem pelo Real Betis e as dificuldades que teve com os torcedores do clube, reconhecendo que cometeu erros que comprometeram sua relação com os fãs.
“Achei que a situação era similar à que vivenciei em Spezia, Carrarese, Livorno… Mas não era. Eu era muito jovem. Um copo aqui, um cigarro ali… E tudo ia parar no Twitter. Fui muito criticado pelos torcedores porque não era visto como um profissional – e eles estavam certos. Fisicamente, eu era talentoso, não precisava me preocupar com alimentação ou treino. Mesmo sem dormir direito, treinei mais do que os demais. Mas chegou um momento em que tive que arcar com as consequências; enfrentei problemas com os torcedores”, revelou o antigo lateral.
“Rasguei o ligamento cruzado após 18 jogos como titular, quando era considerado um dos melhores laterais da La Liga. Regressei seis meses depois, e a cada pequeno erro era massacrado… Acompanhei comentários horríveis sobre mim nas redes sociais. Eu lia e isso me afetava. Voltei de lesão, fiz três gols e três assistências, mas continuava sendo atacado. Num jogo contra o Leganés, marquei o gol da vitória e gritei: ‘Calem a boca, seus idiotas’. Alguns leram meus lábios e foi o auge da situação”, contou.
Diferentemente de sua experiência no Sporting, Piccini comentou sobre sua mudança para a liga espanhola e a queda de desempenho. O ex-jogador admitiu que “estava triste e deprimido”.
“Depressão, falhas, dor, desespero. Foi tudo muito difícil. Passei meses sem conseguir ser eu mesmo. Estava extremamente agressivo e irritado com o mundo; ninguém me suportava devido à minha negatividade e nervosismo. Estava triste e deprimido, e não tenho vergonha de admitir isso”, declarou.
Por fim, Piccini reiterou a dificuldade que enfrentou ao lidar com uma lesão, afirmando que sua única atividade era “jogar PlayStation”.
“Você está nas alturas e, de repente, se vê no chão, enfrentando uma realidade que nunca foi a sua e que é difícil de aceitar. Várias situações podem desencadear isso: problemas pessoais, perda de um ente querido, um rompimento amoroso. No meu caso, foi uma lesão. Não sabia para onde ir. Enfrentei tudo sozinho e passei muitas noites aguardando minha esposa dormir para que ela não me visse chorar. Perdi toda motivação. A única coisa que eu queria era jogar PlayStation. E quando percebi que estava perdendo minha família, soube que precisava agir e recuperar minha vida”, finalizou.
Vale lembrar que Cristiano Piccini teve uma passagem pelo Sporting em 2017/18, onde acumulou duas assistências em 40 jogos.
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