
Pode parecer curioso, mas uma das lições que se obtém ao explorar o Novo Testamento é a capacidade de discernir entre indivíduos fortes e fracos — e essa distinção não se refere ao físico. Falo aqui de caráter. Uma marcante dicotomia se revela nas páginas da Bíblia. Aqueles que se dedicam a lê-la devem confrontar essa questão desconfortável.
Essa divisão entre os fortes e os fracos não é uma observação que o crente deve fazer apenas em relação ao que ocorre fora da Igreja, como se as enfermidades do mundo não tivessem lugar dentro dela. Não é essa a questão. Dentro da Igreja, o crente é chamado a reconhecer quem são os fortes e os fracos.
Assim que se compreende quem é forte e quem é fraco, a abordagem deve ser diferenciada. O forte merece ser tratado como tal, enquanto o fraco deve ser tratado de acordo com suas vulnerabilidades. Essa afirmação, desprovida de contexto, pode parecer uma forma de discriminação. E, de certa forma, é realmente isso.
Um dos trechos bíblicos que mais claramente demandam a distinção entre fortes e fracos encontra-se na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, e em menor medida, na Carta aos Romanos. Qual é o cenário? Dentro das primeiras comunidades cristãs surgia um debate sobre a ingestão de carne — um assunto que não dizia respeito a ser vegetariano. Naquele tempo, a carne vendida nos mercados havia passado por determinados rituais de consagração a ídolos, criando um dilema para aqueles que tinham abandonado o politeísmo em favor do cristianismo: “Devo consumir essa carne ou não?” O debate gerava intensa controvérsia nas igrejas.
Nesse acalorado debate, alguns eram classificados como fortes e outros como fracos. Quem eram os fortes? Aqueles que possuíam conhecimento e, portanto, consumiam carne sem quaisquer problemas de consciência (1 Coríntios 8:7). Os fracos eram aqueles facilmente escandalizados pela falta de entendimento (v. 9). Assim, os fortes eram vistos como aqueles que detinham conhecimento (v. 10), enquanto os fracos eram os que careciam de entendimento. Isso pode parecer uma maneira simplista de abordar a questão.
Contudo, há um aspecto importante a considerar. Após identificar quem era forte e quem era fraco, essa distinção deveria ser deixada de lado. Como isso? O exercício do discernimento para diferenciar fortes de fracos tinha como objetivo último impedir o julgamento das pessoas. O Apóstolo Paulo finaliza essa reflexão em Romanos 14:13: “Portanto, não continuemos a nos julgar uns aos outros; ao invés disso, nosso propósito deve ser o de não colocar pedra de tropeço ou escândalo ao irmão”. Assim, aquelas discussões deveriam cessar.
Se não conseguirmos distinguir entre fortes e fracos, não estaremos preparados para viver além dessas categorias. Há um paradoxo nesse desafio. Sabendo que a pessoa com quem interajo é fraca, devo agir com condescendência. Por outro lado, ao interagir com uma pessoa forte, devo confrontá-la. Esta ação não é um fim, mas um meio. Permita-me esclarecer.
No contexto bíblico, a distinção é um atributo divino. O mundo foi formado pela palavra de Deus que separou luz das trevas, terra do céu, sol da lua, criaturas voadoras de não voadoras e nadadoras, homem da mulher, entre outros. Adão foi incumbido de imitar Deus, distinguindo os animais. O dom do discernimento é um sinal de que a pessoa está aprendendo a observar o mundo através da perspectiva divina: diferenciando uma coisa da outra.
Assim, há uma forma de discriminação que é divina, pois a diversidade é uma criação de Deus. Ao fazermos a distinção entre fortes e fracos, utilizamos o método divino para alcançar o propósito de Deus. E qual é esse propósito?
Distinguir entre fortes e fracos é um instrumento no projeto de reparar o que está danificado no mundo. Nesse processo de renovação de todas as coisas, haverá um momento em que os fortes deverão se tornar fracos e os fracos, fortes. Nesse reordenar de tudo, o Todo-Poderoso tornou-se um bebê para que os poderosos não se exaltassem como adultos.
Ao lidar com os fracos, devo contribuir para que se libertem da vitimização, reconhecendo o poder que Deus lhes concede. Ao interagir com os fortes, é necessário questionar o poder que possuem, pois Deus pode retirá-lo a qualquer momento. Em essência, devo vivenciar o Natal diariamente.
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