cropped-radiocMadeira-logo-removebg-preview
HomeMadeiraRecebam com alegria a Nações Lusas!

Recebam com alegria a Nações Lusas!

Existem instantes em que o governo se manifesta não através de grandes pronúncias, nem em conferências globais, nem em indicadores
<p>Recebam com alegria a Nações Lusas!</p>

Existem instantes em que o governo se manifesta não através de grandes pronúncias, nem em conferências globais, nem em indicadores econômicos que tanto fascinam líderes e analistas, mas em ações simples, quase corriqueiras: uma fila, um guichê, um selo, um olhar. O aeroporto exerce esse papel de revelação. É nesse limiar entre o exterior e o interior que uma nação se mostra ao mundo — ou se contradiz.

As filas intermináveis de espera nos aeroportos nacionais, particularmente no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, durante o controle de entrada de estrangeiros, tornaram-se mais do que um transtorno logístico: representam um sinal político. Um sinal preocupante de desorganização institucional, de fragilidade administrativa, e de uma perigosa indiferença para com a dignidade do próximo — seja ele turista, investidor, trabalhador migrante ou simples visitante.

A importância do controle de fronteiras é indiscutível. Em um espaço Schengen pressionado por fluxos migratórios complexos, riscos transnacionais e demandas de segurança legítimas, o papel da AIMA no controle documental e triagem de entradas é não apenas necessário, mas vital. O cerne da questão não é o controle; mas sim a crônica incapacidade do Estado em garantir que esse controle ocorra de maneira eficaz, ágil e civilizada.

Nenhuma democracia verdadeira pode considerar normal que as filas de entrada excedam uma hora, duas horas, às vezes mais, em condições deterioradas, sem informação clara, sem assistência adequada, sem prioridade para famílias, idosos ou pessoas com mobilidade reduzida. Nenhum Estado que se autodenomine moderno pode aceitar que o tempo de espera para adentrar legalmente no país seja imprevisível, arbitrário e frequentemente humilhante. Um prazo razoável — quinze minutos — não é um capricho liberal; é um padrão mínimo de respeito institucional.

Portugal se apresenta ao exterior como uma economia em crescimento, aberta ao turismo, dependente dele, defensora da hospitalidade, da qualidade de vida e da eficiência administrativa. O discurso oficial insiste na imagem de um país seguro, moderno, acolhedor, inserido nas principais rotas globais. Contudo, essa narrativa desmorona no momento em que o visitante pisa em solo nacional e se depara com um caos organizacional que faria corar administrações aeroportuárias de nações em desenvolvimento.

A comparação, embora desconfortável, é necessária: existem aeroportos em países com menos recursos e com estruturas estatais mais frágeis que funcionam com mais fluidez e maior respeito pelo passageiro. O problema em Portugal não é a falta de recursos financeiros, nem a escassez de turistas, nem a ausência de legislação. É uma questão de governança.

Particularmente alarmante foi a justificativa pública apresentada pela Ministra da Administração Interna, que atribuiu o colapso do sistema ao fato de o sistema informático ter “pifado”. Essa explicação, além de tecnicamente fraca, é politicamente inaceitável. Um sistema informático não “pifa” por acaso: falha porque não foi adequadamente testado, porque não possui redundâncias, porque não foi dimensionado para o volume real de passageiros, porque faltou planejamento, investimento ou supervisão adequados. Invocar uma falha técnica como desculpa é, na verdade, confessar uma incompetência estrutural.

O que se observa é uma acumulação de erros: déficit crônico de recursos humanos, falta de planejamento sazonal apesar da previsibilidade dos picos turísticos, falhas de coordenação entre entidades, sistemas tecnológicos frágeis, decisões tardias e uma cultura administrativa que reage sempre após o colapso, e nunca antes. Tudo isso aponta para uma gestão pública que opera no improviso contínuo, como se o funcionamento normal do Estado fosse um favor e não uma obrigação.

Mais grave ainda é a normalização do desrespeito. Pessoas que entram legalmente em Portugal — muitas delas trazendo riqueza, investimento, trabalho e prestígio internacional — são tratadas como corpos em trânsito sem rosto, sem direitos, sem consideração. Não se trata de luxo, nem de privilégio; trata-se de uma civilidade básica. Os aeroportos são a primeira sala de visitas de um país. São o primeiro “bom dia”, a primeira imagem, e o primeiro juízo silencioso que o visitante faz acerca da seriedade das instituições que o recebem.

Quando essa primeira impressão é a de caos, atraso, desorganização e indiferença, todo o discurso subsequente sobre eficiência, competitividade e modernidade perde credibilidade. Não há campanha internacional de promoção turística que resista a duas horas em uma fila sem explicações.

Este problema não é técnico; é político. Não é episódico; é estrutural. Revela um Estado que se habituou a operar abaixo do aceitável, que confunde a resiliência dos cidadãos com a tolerância ao mau serviço, e que responde às críticas com explicações burocráticas em vez de soluções concretas. Um Estado que não compreende que tratar bem quem chega é também uma forma de respeitar quem já reside aqui.

Portugal não pode aspirar a ser um destino de excelência com infraestruturas de terceiro nível. Não pode depender do turismo e tratar os turistas como um incômodo. Não pode defender suas fronteiras sem saber como gerenciá-las. Não pode invocar segurança como desculpa para a ineficiência. Um país sério controla bem e controla rápido.

Enquanto essa realidade perdurar, não estaremos diante de meras filas de espera, mas diante de um sinal inconfundível de falência administrativa em um dos pontos mais delicados da soberania: a fronteira. E uma fronteira que não funciona não protege, não acolhe e não representa. Apenas afasta.

Logo (3)

Todas as manchetes e destaques do dia do radiocMadeira.pt, entregues diretamente para você. Change the color of the background to the green indicated previously and make it occupy all the screen widely.

© 2025 radiocmadeira. Todos os direitos reservados

radiocMadeira.pt
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.