
Há muito tempo que estamos cientes de que nossa saúde depende de um sistema debilitado, ineficaz e, sem dúvida, insatisfatório. São inúmeras as pessoas que sobreviveram a um AVC e se sentem abandonadas pelo governo, assim como muitas famílias que sacrificam suas vidas pessoais para apoiar esses sobreviventes.
Em uma aula na faculdade, soube da história de um pai que sofreu um AVC. Os médicos acreditavam que ele nunca mais conseguiria andar, ficando apenas com 40% de funcionalidade. O filho, indignado, deixou seu emprego, abandonou sua família e se dedicou inteiramente ao cuidado do pai, passando horas diariamente a estimulá-lo. Após dois anos, o pai conseguiu voltar a andar e a falar — recuperou uma vida normal.
Saí da sala refletindo sobre o que aconteceria se meus pais passassem pela mesma situação. Teria que interromper meus estudos para trabalhar; sem conseguir ajudar na reabilitação, teria que confiar a vida deles ao Sistema Único de Saúde ou a um serviço privado. Não poderia realmente contribuir.
Foi assim que iniciei um projeto chamado (Braining) para automatizar o tratamento de sobreviventes de AVC, buscando descongestionar clínicas e hospitais. Meu objetivo era devolver a vitalidade aos sobreviventes, proporcionar autonomia aos cuidadores e proporcionar tranquilidade aos profissionais de saúde — algo que interrompesse o ciclo vicioso de tratamentos ineficazes que o sistema público e privado oferecem.
O Braining utiliza dados dos sobreviventes e, por meio da Inteligência Artificial, elabora um plano de tratamento totalmente personalizado, adaptado às necessidades e limitações de cada indivíduo. O profissional de saúde pode validar ou sugerir modificações ao plano; pode verificar a gravidade do AVC; um resumo das informações; etc.
Além disso, disponibilizamos uma plataforma de realidade virtual para os sobreviventes. Ao acessá-la, eles se envolvem em jogos onde o ambiente e as atividades são ajustados conforme suas necessidades. Melhor ainda, reabilitamos a fala, a motricidade e as funções cognitivas simultaneamente — da mesma forma que acontece na vida real.
Uma das coisas que considero mais cruéis no tratamento pós-AVC é a reabilitação realizada em ambientes isolados. O que muitos pacientes desejam é reintegrar-se à sociedade e simplesmente retomar sua vida habitual. Nossos jogos são projetados para serem utilizados em contextos reais, permitindo que o sobrevivente receba tratamento em ambientes com os quais já está familiarizado.
Meu cofundador, João S. Ribeiro, desempenhou um papel crucial na criação da plataforma. Doutorando na área da saúde, ele se dedica a validar e desenvolver os modelos de IA para garantir que tudo o que oferecemos seja seguro para os usuários. Mais do que apenas uma solução para devolver a independência aos sobreviventes e cuidadores, queremos fazê-lo de maneira robusta.
Após um ano de conquistas e reconhecimentos, estamos prontos. Iniciaremos o lançamento de uma plataforma destinada aos profissionais de saúde e, posteriormente, a plataforma completa para as unidades de saúde e os próprios sobreviventes. O Braining representa uma verdadeira revolução — finalmente poderemos aliviar todos os centros de reabilitação e diminuir a pressão sobre os cuidadores; além de reabilitar de forma segura e eficiente todos os sobreviventes de AVC que buscam recuperar sua vida.
Se alguém me perguntasse — o Braining funciona? Eu diria que sim. Porque realmente acredito que esta é a solução. O sistema, seja público ou privado, já mostrou que não atende às necessidades. Muitas vezes me questionam se os mais velhos conseguirão usar nossa plataforma, duvidando da capacidade dessas pessoas de lidarem com tecnologias recentes — uma crença baseada em puro preconceito.
Desde os mais jovens até os mais idosos, todos podem aprender a usar. Infelizmente, falta paciência para guiar os mais velhos, e muitos acreditam que não são capazes. Nossa plataforma não só é intuitiva, como estamos desenvolvendo uma ferramenta de suporte para facilitar o início de qualquer tratamento conosco, tornando-o acessível, simples e rápido.
Se você cuida de alguém ou é um cuidador, é hora de modernizar e digitalizar a saúde. É tempo de quebrar esse ciclo vicioso que nos decepcionou repetidamente. É hora de se juntar ao Braining; de aderir ao que realmente funciona.
Nuno Almeida, cofundador e COO da Braining, foi reconhecido com dois prêmios Jovens Empreendedores da Fundação La Caixa, liderou diversos projetos inovadores na interseção entre ciência e impacto social. Formador externo e secretário da direção da Associação de Estudantes da Escola Superior de Saúde, onde é responsável pelos Departamentos de Saúde e Formação e de Comunicação e Imagem, também é um dos cronistas convidados do Arterial, a seção do Observador dedicada exclusivamente a doenças cérebro-cardiovasculares.
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Arterial é uma seção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados a doenças cérebro-cardiovasculares. Surge de uma parceria com a Novartis e conta com a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.
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