
A Europa está prestes a dar início a um dos empreendimentos de mobilidade mais audaciosos deste século: a Rede Ferroviária de Alta Velocidade da Europa, uma iniciativa promovida pela Comunidade das Empresas Ferroviárias e de Infraestruturas da Europa (CER), que pretende interligar as principais capitais e cidades importantes do continente através de mais de 49.400 quilômetros de trilhos projetados para trens que operarão a velocidades entre 250 km/h e 350 km/h.
O projeto, que deverá ser oficialmente aprovado pela Comissão Europeia ainda este mês, marca um marco histórico na mobilidade sustentável do continente, posicionando o transporte ferroviário como a prioridade nas políticas de transição ecológica e interconexão entre nações. De acordo com previsões na Europa, o investimento estimado para sua implementação atinge 546 bilhões de euros, com um cronograma de realização de 20 anos.
Uma rede que promete revolucionar a mobilidade europeia
Em declarações à Euronews, Alberto Mazzola, diretor executivo da CER, destacou que “a Comissão Europeia apresentará o plano diretor para as conexões ferroviárias de alta velocidade entre todas as capitais e grandes cidades europeias no dia 21 de outubro”. Ele acrescentou que “acreditamos na viabilidade desse projeto. Trabalhamos neste planejamento por quatro ou cinco anos como associação e queremos garantir que todas as capitais da Europa estejam interconectadas por trens de alta velocidade, incluindo, naturalmente, Atenas”.
Mazzola também enfatizou que o foco não está restrito apenas às capitais. “Todas as grandes cidades e regiões urbanas com cerca de 250 mil habitantes, como Salônica, devem ser incluídas. E cidades menores, mas significativas ao longo das rotas, também precisam ser beneficiadas”, afirmou.
O líder da CER participou recentemente da 8ª Conferência de Infraestruturas e Transportes, realizada em Atenas, onde salientou que o setor ferroviário deve se tornar “a coluna vertebral das viagens na Europa”.
Segundo Mazzola, a repercussão será significativa: “Nas viagens de longa distância, cerca de 50% dos europeus deverão optar por trens de alta velocidade e 20% por trens convencionais. O transporte ferroviário vai realmente se estabelecer como a base das viagens”.
Ele exemplificou com uma situação prática: “Um turista viaja, em média, entre seis e sete horas. Se viajar a 50 quilômetros por hora, percorrerá 300 quilômetros. Se for a 250 quilômetros por hora, conseguirá percorrer 1.500 quilômetros. Isso altera completamente a perspectiva. É o que já aconteceu na China. Espanha, França e Itália são exemplos de países onde a alta velocidade opera com eficiência”.
A Grécia ainda encontra desafios
Apesar do otimismo, Mazzola ressaltou que países como a Grécia ainda enfrentam sérios desafios no setor ferroviário, exacerbados pelo trágico acidente em Tempi em 2023, que resultou em 57 fatalidades, e por desastres naturais que afetaram parte da malha ferroviária. “A Grécia precisa ser conectada. Se não for, ficará em desvantagem enquanto os outros avançam”, advertiu.
Um dos principais obstáculos para a plena implementação do projeto, segundo Mazzola, é a carência de infraestrutura ferroviária na Europa. “Atualmente, temos menos infraestrutura ferroviária do que após a Segunda Guerra Mundial”, denunciou. “Em média, cada país possui uma rede 15 a 20% menor, enquanto construímos cerca de 80% mais em vias navegáveis. Essa deficiência de infraestrutura limita o potencial do transporte ferroviário e restringe tanto a iniciativa privada quanto pública.”
Mazzola também alertou que cerca de “5 a 10% da rede ferroviária europeia já está sobrecarregada. Isso implica que, para a introdução de um novo trem, é necessário retirar outro.”
A CER argumenta que o financiamento do projeto pode ser garantido através de programas europeus e nacionais, assim como por meio de fundos originalmente designados à defesa europeia, no âmbito das infraestruturas.
<p“O que o conflito na Ucrânia demonstrou é que a ferrovia é imprescindível. É chamada de ‘segundo exército da Ucrânia’. Sem ferrovias, nada se movimenta no país. Quando a guerra começou, transportamos cerca de seis milhões de ucranianos de trem. Auxiliamos — fomos o principal meio de transporte para essas pessoas, refugiados que chegaram à Europa e, posteriormente, retornaram”, finalizou Mazzola.
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