cropped-radiocMadeira-logo-removebg-preview
HomeEconomiaTrump-instiga laboratórios a elevar custos de remédios na Europa para diminuí-los nos EUA.

Trump-instiga laboratórios a elevar custos de remédios na Europa para diminuí-los nos EUA.

O líder dos Estados Unidos, Donald Trump, está a transformar o panorama do mercado farmacêutico mundial, incentivando as grandes indústrias
Oriente Próximo: Trump apresenta proposta de 20 itens para encerrar conflito em Gaza

O líder dos Estados Unidos, Donald Trump, está a transformar o panorama do mercado farmacêutico mundial, incentivando as grandes indústrias do setor a reconsiderarem os preços que praticam na Europa para compensar as reduções que planeia aplicar nos Estados Unidos. Essa movimentação está a provocar tensão entre governos e empresas, ameaçando o modelo que tem regulado os preços dos medicamentos inovadores há várias décadas.

A farmacêutica norte-americana Bristol Myers Squibb (BMS) desencadeou uma grande mudança no setor ao divulgar, em 22 de setembro, que irá comercializar no Reino Unido a sua nova terapia para a esquizofrenia, Cobenfy, ao mesmo preço que nos EUA — aproximadamente 1.600 euros por mês. Esta decisão quebra uma prática consolidada onde os preços nos EUA são consideravelmente superiores devido à liberdade total das empresas para os determinarem.

A companhia deixou claro em comunicado às autoridades britânicas: “Estamos dispostos a tomar a difícil decisão de abandonar o mercado se o valor que este tratamento proporciona aos pacientes não for reconhecido de forma mais justa”, afirmou um porta-voz da BMS.

Pfizer adota a “cláusula da nação mais favorecida”
Em um movimento paralelo, a Pfizer se tornou a primeira farmacêutica a implementar nos EUA a denominada “cláusula da nação mais favorecida”, um mecanismo que obriga a empresa a oferecer preços iguais ou inferiores àqueles mais baixos praticados em outros países. O anúncio foi realizado na Casa Branca, onde o presidente da companhia, Albert Bourla, garantiu que “a grande maioria dos tratamentos de atenção primária e alguns hospitalares serão oferecidos com um desconto médio de 50%.”

Ao seu lado, Donald Trump comemorou a decisão como um marco histórico: “Estamos fazendo história. Finalmente, vamos pagar pelos medicamentos o mesmo — ou até menos — que outros países.”

Trump busca reduzir preços nos EUA às custas da Europa
As ações fazem parte de uma ofensiva mais ampla de Trump contra o modelo global de precificação farmacêutica. O intuito é diminuir os preços nos EUA e transferir o impacto econômico para a Europa, onde as companhias terão que compensar as perdas.

A estratégia baseia-se em uma antiga ideia do presidente, já expressa em 2020: “Os nossos cidadãos pagam preços muito mais altos do que em outros países, subsidiando assim o socialismo no exterior.” Trump também acusa a União Europeia (UE) de ter “negociado de forma brutal” os preços com os sistemas públicos de saúde.

Fontes do Ministério da Saúde espanhol, citadas pelo El País, reconhecem que a retórica e as políticas de Trump “mergulharam o setor na incerteza”, uma vez que “é previsível uma maior pressão para o aumento dos preços, embora ainda seja prematuro avaliar o impacto real”.

Especialistas alertam para um jogo de três partes
Para Jaime Espín, professor de Economia da Saúde na Escola Andaluza de Saúde Pública e ex-assessor do Banco Mundial, a discrepância de preços “não se deve à resistência europeia em remunerar a inovação, mas sim às políticas norte-americanas”. “Os países europeus possuem sistemas públicos de saúde que avaliam o valor real dos novos medicamentos, negociam preços e aproveitam seu poder como grandes compradores. Nos EUA, as farmacêuticas impõem livremente os preços, até mesmo ao setor público”, explica.

Jaume Puig-Junoy, professor da UPF Barcelona School of Management, resume o novo panorama como um “jogo de três partes” entre Trump, as farmacêuticas e a UE: “Os dois primeiros compartilham um objetivo — que a Europa pague mais. As empresas podem hesitar em oferecer preços mais baixos na Europa se isso exigir reduções também nos EUA. Isso pode resultar em atrasos na introdução de novos medicamentos no mercado europeu.”

Novartis alerta: “Europa precisa reformar seus sistemas de preços”
A Novartis, por meio de seu diretor executivo Vas Narasimhan, foi uma das mais diretas: “Tentamos evitar retirar produtos do mercado, mas isso ocorrerá com maior frequência a menos que a Europa reforme seus sistemas de preços.” A empresa admite que “a dinâmica atual nos Estados Unidos exerce pressão adicional sobre os governos em todo o mundo”.

Entretanto, nem todas as farmacêuticas apoiam plenamente a abordagem de Trump. A Eli Lilly afirmou que “os custos de pesquisa devem ser distribuídos de maneira mais justa”, mas considerou que “a cláusula da nação mais favorecida não é a solução para tornar os medicamentos mais acessíveis”.

Guillem López-Casasnovas, diretor do Centro de Investigação em Economia e Saúde da Universidade Pompeu Fabra, destaca outro fator que agrava os preços nos EUA: as empresas intermediárias de gestão de benefícios farmacêuticos. “Supostamente, elas negociam preços melhores e repassam as economias, mas muitas vezes isso não acontece. Se Trump eliminar esses intermediários, poderá resolver cerca de um terço do problema dos preços”, observa.

Especialistas como Beatriz González López-Valcárcel, da Universidade de Las Palmas, alertam que o impacto real pode ser limitado: “Não acredito que haja grandes aumentos nos preços reais na Europa. Os sistemas públicos têm experiência e capacidade de negociação. As empresas pensam globalmente, mas atuam localmente.”

Os efeitos concretos poderão levar anos para se manifestar, até que as farmacêuticas revelem suas contas e se compreenda o impacto nas vendas em cada região.

Logo (3)

Todas as manchetes e destaques do dia do radiocMadeira.pt, entregues diretamente para você. Change the color of the background to the green indicated previously and make it occupy all the screen widely.

© 2025 radiocmadeira. Todos os direitos reservados

radiocMadeira.pt
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.