
A Igreja Católica planeja um Congresso Nacional sobre Paz e Reconciliação, visando um “exame de consciência coletivo” antes do dia 11 de novembro
Lisboa, 13 de setembro de 2025 (Ecclesia) – Dom José Imbamba, líder da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe (CEAST), afirmou que, passadas cinco décadas da independência de Angola, a sociedade falhou em “criar espaços de diálogo, entendimento e escuta dos cidadãos”.
“Foi dada mais relevância à figura do militante partidário do que à do cidadão. Isso resultou em embaraços ideológicos que perpetuam a estagnação do país. Esses fatores contribuíram para a entrada da corrupção, além do desvio de recursos públicos, onde os mais poderosos se enriqueceram de forma irresponsável em prejuízo do bem-estar da população. Vivemos em um país onde os cidadãos perderam a confiança”, relatou à Agência ECCLESIA o arcebispo de Saurimo.
O líder lamentou a “euforia” em torno de uma celebração “no contexto de miséria, desigualdades em diversas áreas e a falta de uma verdadeira reconciliação”.
“As instituições estatais, hoje, estão desrespeitadas, sem a força necessária que deveriam ter. O cidadão não respeita as instituições, justamente por causa dessa cultura de desordem que temos promovido ao longo do tempo. Isso está corroendo nosso convívio social”, destacou.
A Igreja Católica está organizando um Congresso Nacional sobre Paz e Reconciliação para a última semana de outubro.
“Nosso objetivo é reunir todos os protagonistas da sociedade – governantes, políticos, representantes da sociedade civil e líderes religiosos – num único espaço para realizarmos este exame de consciência que nos permitirá identificar nossas falhas, irresponsabilidades e omissões, com o intuito de corrigir”, mencionou.
“Angola, cinquenta anos após a independência, não deve permanecer a mesma. É um país que não pode continuar a carregar os mesmos problemas, as mesmas incertezas e indefinições”, acrescentou.
Participando do XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, que se encerrou na última sexta-feira em Lisboa, Dom José Imbamba sublinhou a importância de tais encontros para combater na sociedade “a divisão, os nacionalismos, a inospitalidade e a rejeição das diferenças”.
“Todo esse clima cultural que atenta contra a dignidade humana e contra a verdadeira essência da humanidade atenta ao convívio entre inteligências, vontades, pessoas e culturas. Um mundo que não coopera para a união das riquezas humanas, espirituais e culturais, impedindo a construção de uma comunidade multirracial que dialogue e conviva”, explicou.
A Igreja Católica em Angola deseja contribuir para a “amizade social” e promover o diálogo entre as diferenças, buscando “oportunidades de conhecimento, identidade e partilha”.
O presidente da CEAST expressou sua preocupação com a incapacidade dos governantes em fazer uma “leitura da história”, especialmente no que tange à mobilidade humana, evidenciando o aumento de fenômenos “populistas”.
“Esse não é o ideal de humanidade que almejamos. Os próprios governantes falham em interpretar nossa história, em encontrar linhas de governança que possibilitem a partilha de sentimentos e pessoas. A mobilidade humana é uma realidade; hoje o mundo está aberto”, enfatizou.
Dom José Imbamba destacou que os países de origem também devem se responsabilizar por oferecer respostas às pessoas que buscam “viver dignamente”.
“É essencial que o desenvolvimento local e endógeno seja visível. As razões que levam as pessoas a buscarem dignidade e conforto fora de suas localidades têm raízes nos países que não conseguem oferecer soluções para que elas realizem suas vidas dignamente. Precisamos olhar para nossos governos para que não dispersem os recursos disponíveis, não desperdicem as riquezas e não percam tempo com trivialidades que não contribuem para o crescimento integral das pessoas”, esclareceu.
“Meu país possui todos os recursos para viver com dignidade, prosperar e oferecer um futuro melhor aos seus cidadãos. Contudo, faltam habilidades e culturas que nos ajudem a enxergar em tudo que somos e temos uma oportunidade de distribuir justiça e igualdade, permitindo que cada um trabalhe e produza para seu próprio bem”, concluiu.
A conversa com Dom José Imbamba foi destaque no programa ECCLESIA, transmitido hoje na Antena 1 da rádio pública.
LS
Todas as manchetes e destaques do dia do radiocMadeira.pt, entregues diretamente para você. Change the color of the background to the green indicated previously and make it occupy all the screen widely.
© 2025 radiocmadeira. Todos os direitos reservados