
José Luís Nunes Martins
É dito que sem crença não há expectativa, mas eu, por vezes, tenho crença e mesmo assim não consigo enxergar esperança.
Viver os dias sem a convicção de que algo bom pode ocorrer acaba por nos esgotar o ânimo. O fato é que pouco importa se desejo prosseguir ou não; o futuro se aproxima independentemente. O grande problema é que, se abdico de lutar, utilizando minhas forças e talentos, por um futuro melhor, é bem provável que coisas boas não estejam à espera.
Em determinados momentos, fico sem fé e é como se a terra tremesse sob minha alma, que sustenta os meus passos… o abismo é tão imenso, a sensação de queda tão avassaladora, que, de repente, percebo que, mesmo que eu não compreenda, Deus está presente e eu sou alguém conhecido por Ele.
O maior desafio é, então, como transitar da crença para a expectativa. Afinal, preciso reconhecer que tenho a liberdade de dar significado à minha existência e que devo agir conforme essa responsabilidade. Contudo, saber que existe um pai é distinto de querer ser um bom filho… e, em certos momentos, até me pego pensando que talvez seja melhor admitir minha incapacidade de levar adiante qualquer projeto.
Talvez o amor, que somente pode mover alguém repleto de fé e esperança, seja a chave para ligar esses dois elementos.
O amor representa a entrega do que somos a uma incerteza total, pois ela também possui liberdade. E este pode ser o único caminho rumo à felicidade. Não existem garantias para aqueles que se dispõem e se aventuram a amar.
Apenas a fé pode justificar a coragem quase irracional diante de um futuro que se anseia e se pressente. Mas desse futuro não existem provas ou indícios de que o bem prevalecerá.
E assim, recupero a esperança sempre que decido que a minha vida deve ser, mais do que uma narrativa, uma jornada, uma verdadeira jornada de amor.
Já não sei o que me impulsiona — se a crença, a expectativa ou o amor. Mas é um fato que continuo a caminhar como se tivesse a certeza inabalável de que há alguém que deposita em mim sua crença e sua expectativa, que me ama e que, mesmo sem que eu consiga entender, me aguarda em um tempo além deste. Como um pai que espera por um filho que se distanciou e retornará.
(As opiniões expressas na seção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são de responsabilidade dos autores e refletem apenas suas visões.)
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