É Necessário Ações e Estratégias de Conciliação”, Declara o Pontífice, Inspirado Pelo Exemplo de Lampedusa
O Papa Leão XIV apoiou a proposta do projeto “Gestos de Recepção” para integrar a lista do Patrimônio Cultural Immaterial da UNESCO
Vaticano, 13 de setembro de 2025 (Ecclesia) – O Papa destaca a necessidade de “especialistas em reconciliação”, numa época em que a globalização da indiferença parece ter evoluído para uma “globalização do desespero”, em sua mensagem sobre a candidatura do projeto ‘Gestos de Recepção’, originário de Lampedusa, para o Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO.
“Vocês representam um bastião da humanidade que as vozes estridentes, os medos antigos e as injustiças tentam desestabilizar. Não existe justiça sem compaixão, e não há legitimidade sem ouvir o sofrimento alheio”, afirmou Leão XIV, dirigindo-se aos “agentes da esperança” de Lampedusa, em uma mensagem divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé.
O Papa registrou uma mensagem em vídeo para a apresentação da candidatura do projeto ‘Gestos de Recepção’ em Lampedusa e expressou seu ‘obrigado’, que representa o agradecimento de toda a Igreja pelo testemunho, estendendo e renovando as palavras do Papa Francisco. Ele também agradeceu às associações, voluntários, prefeitos e administrações que colaboraram ao longo do tempo.
“Obrigado aos sacerdotes, médicos, forças de segurança e a todos que, muitas vezes, de maneira invisível, oferecem um sorriso e um olhar humano às pessoas que sobreviveram em sua angustiante jornada de esperança”, declarou, em uma mensagem “remota”, embora esperasse “um encontro pessoal em breve”.
Leão XIV relembrou as numerosas vítimas que perderam a vida no Mar Mediterrâneo, “muitas mães e crianças”, assim como os migrantes enterrados na ilha italiana, considerados como sementes para um futuro renovado, e também recordou os sobreviventes que se tornaram agentes da justiça e da paz.
“Com o passar dos anos, é verdade que o cansaço pode surgir. Assim como em uma corrida, pode faltar fôlego. Os desafios muitas vezes colocam em dúvida o que foi realizado e, por vezes, podem até nos dividir. É necessário reagir juntos, permanecer unidos e estar abertos novamente ao sopro divino. Todo o bem que fizeram pode parecer apenas gotas no oceano. Porém, isso não é verdade, é muito mais do que isso!”, afirmou.
Para Leão XIV, a “globalização da indiferença, mencionada pelo Papa Francisco a partir de Lampedusa”, transformou-se na “globalização do desespero”.
“A globalização do desespero é fruto de uma falsidade: a história sempre seguiu essa lógica, sendo escrita pelos vencedores, o que faz parecer que não podemos agir, mas isso não é verdade. A história é devastada pelos opressores, mas é restaurada pelos humildes, pelos justos e pelos mártires, nos quais o bem brilha e a verdadeira humanidade persiste e se renova”, acrescentou.
O Papa expressou sua tristeza diante do “grande medo, preconceitos e barreiras, mesmo que invisíveis”, que surgem como consequências de uma história machucada, e reconheceu que se “o mal se propaga de uma geração a outra, assim também o bem, que se mostra mais forte”. Para isso, devemos nos tornar “especialistas em reconciliação” e a reconciliação é uma forma especial de nos encontrarmos.
“É necessário reparar o que está quebrado, tratar com sensibilidade as memórias que sangram, aproximar-se pacientemente, ter empatia pela dor e histórias uns dos outros, reconhecer que compartilhamos os mesmos sonhos e esperanças. Não existem inimigos: apenas irmãos e irmãs. Essa é a cultura da reconciliação. Precisamos de gestos e de políticas de reconciliação”, finalizou Leão XIV, em uma mensagem divulgada online.
A candidatura do projeto ‘Gestos de Recepção’, originário de Lampedusa, ao Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO, promovida pela associação Perou, foi apresentada nesta sexta-feira, 12 de setembro, e incluiu um concerto de Giovanni Allevi na antiga pedreira de Cala Francese; a proposta faz parte do projeto “Avenir”, que consiste em um catamarã de 67 metros, projetado para ser o primeiro navio europeu dedicado ao resgate em alto-mar.
CB
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