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Escolhi falecer como símbolo de fé

Mathieu Sawadogo, um catequista sequestrado em Burquina Fasso Burquina Fasso é um dos países africanos onde a ameaça terrorista é
Pequena Joia – Agência Cristã

Mathieu Sawadogo, um catequista sequestrado em Burquina Fasso

Burquina Fasso é um dos países africanos onde a ameaça terrorista é mais acentuada. Aproximadamente 40% do território está sob controle ou de alguma forma influencia grupos armados que transformaram o jihadismo em uma bandeira de terror. Apesar de todos os perigos, Mathieu e sua esposa, Pauline, nunca abandonaram sua missão como catequistas. Tudo mudou em maio de 2018, quando foram sequestrados. Enfrentaram um verdadeiro pesadelo. Rezaram juntos o Terço mais de 700 vezes. A oração foi sua salvação.

Mathieu Sawadogo evita falar sobre si mesmo e rejeita a ideia de ser visto como um herói, mas seu silêncio e humildade apenas enriquecem sua história, evidenciando o sofrimento que vivenciou como catequista em Burquina Fasso. Juntamente com sua esposa, enfrentou quatro intermináveis meses de cativeiro sob a custódia de um dos diversos grupos terroristas que assolam a região, ostentando a bandeira negra do jihadismo. Foram quatro meses de provações, durante os quais rezaram incessantemente, usando pedrinhas para simular as contas do rosário, implorando à Mãe de Deus por libertação. Rezaram com uma fé profundamente testada pelo medo e pela violência.

Deslocados para uma aldeia próximas ao Mali

Mathieu reluta em falar sobre si, mas decidiu compartilhar um pouco de sua história para agradecer aos benfeitores da Fundação AIS, que apoiam catequistas como ele na preservação da fé entre os cristãos de Burquina Fasso. Em 2015, foi enviado por sua Diocese para uma pequena vila chamada Baasmere, próxima à fronteira com o Mali. Naquela época, essa já era uma das áreas mais perigosas do país, dado que o Mali também enfrentava a crescente violência terrorista. Inicialmente, os grupos armados se concentravam em atacar o exército e a polícia, mas logo começaram a mirar os civis. Baasmere é uma aldeia que pertence à Paróquia de Aribinda, parte da Diocese de Dori, e na época contava com apenas 150 a 200 católicos.

O pior estava por vir

O primeiro sinal de perigo surgiu em 2018, quando um grupo de homens se apresentou na casa de Mathieu exigindo que ele interrompesse suas orações e celebrações religiosas. Eles não estavam armados, mas foi um aviso claro. Antes de deixar a aldeia, queimaram as lojas que vendiam bebidas alcoólicas. Contudo, o pior ainda estava por vir. No dia 20 de maio de 2018, ao meio-dia, Mathieu estava descansando em casa quando um grupo de dez homens armados e encapuzados invadiu seu lar. “Por que você ainda está aqui?”, questionaram. “Sou catequista, isso é meu dever”, respondeu. Foram forçados a deitá-lo no chão, vendando seus olhos e amarrando suas mãos e pés. Ouviu os sons de suas posses sendo destruídas e incendiadas. Depois, foi colocado na parte de trás de uma moto entre dois terroristas. “Pensei que ia morrer”, recorda Mathieu.

Sem rastro de ódio e revolta

Com os olhos vendados, Mathieu nem percebia que Pauline também tinha sido sequestrada. “Passamos quatro meses em um acampamento no deserto. Achei que eles iriam me matar, mas não senti medo. Perdi a esperança de viver, mas nunca abandonei minha fé. Optei por morrer como mártir. Como não tínhamos terços ou objetos religiosos, usávamos pedrinhas para rezar à noite. Todas as noites, minha esposa e eu rezávamos 700 contas do terço”, compartilha ele. Embora tenha se passado muito tempo, a memória da experiência não se apaga. Hoje, Mathieu não carrega ódio ou revolta. Ele parece em paz. “Pela graça de Deus, Ele ouviu nossas orações e sobrevivemos. Mas mesmo que Jesus me chamasse, mesmo que minha missão parecesse em vão, Ele nunca me abandonaria”, afirma com certeza.

“Muitos foram mártires…”

A fé de Mathieu é marcada por uma convicção sólida. No entanto, ele se recorda de que, enquanto sobreviveu ao cativeiro, muitos outros cristãos também foram sequestrados, forçados e assassinados, e é impossível esquecê-los. “Muitos perderam a vida como mártires para levar o Evangelho até nós. Se prometemos seguir Jesus nos momentos bons e ruins, não podemos negá-Lo nas dificuldades. Pedimos seu apoio para Burquina Fasso. Nossa carga é pesada. Sua generosidade pode reconstruir nossa vida de fé, que um dia foi tão luminosa”, conclui. A história de Mathieu é um testemunho da valentia dos cristãos em Burquina Fasso e em diversas nações africanas onde a ameaça jihadista se alastra como uma praga incontrolável. Ele solicita ajuda e clama por nossa solidariedade. Como poderíamos ficar inertes?

Paulo Aido

(Os artigos de opinião publicados nas seções ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são de responsabilidade dos autores e refletem apenas suas opiniões.)